Lord Sumption entrou imediatamente no olho do furacão após ter concedido uma entrevista ao vivo à BBC no domingo (17), onde condenou a má condução do enfrentamento da pandemia pelas autoridades britânicas, em especial o lockdown.
Essencialmente, Sumption advogou que adultos devem ser tratados como adultos pelo governo.
"O lockdown está destruindo meios de subsistência em grande escala. Está causando enormes danos. E, na minha opinião, nunca foi um preço que valha a pena pagar pelos resultados pouco impressionantes diretamente atribuídos ao lockdown", disse o ex-juiz da Suprema Corte à âncora da TV estatal.
"Temos o direito de correr riscos com nossas próprias vidas, especialmente quando basicamente a vida somente vale a pena ser vivida se você estiver preparado para participar de atividades sociais, o que inevitavelmente envolve riscos. Isso faz parte da vida", provocou.
"O que estou defendendo é que o lockdown deve se tornar totalmente voluntário. Cabe a nós, não ao Estado, decidir quais riscos correremos com nossos próprios corpos", reinvidicou.
"Agora, a resposta tradicional é que, saindo nas ruas e nas lojas, você está infectando outras pessoas. Mas você não precisa correr esse risco. Você pode se auto-isolar voluntariamente. Você não precisa ir às ruas. Você não precisa ir às lojas. As pessoas que se sentem vulneráveis podem se auto-isolar e o resto de nós pode continuar com nossas vidas".
"Minha escolha seria viver uma vida perfeitamente normal. Se os bares estivessem abertos agora, eu iria a um pub lotado sem hesitar. Se os cinemas estivessem abertos, eu iria sem hesitar, porque essa é – para a esmagadora maioria das pessoas sem condições subjacentes sérias de saúde – uma epidemia muito leve", disse o ex-juiz de 72 anos de idade. "Eu alegremente correria esse risco".
"Sem dúvida, algumas pessoas não tomarão decisões sensatas. Mas você não pode aprisionar toda a população simplesmente porque uma pequena minoria não está sendo sensata com sua própria segurança", ponderou Sumption.
"Nunca vivemos em um mundo livre de riscos. Nós nunca iremos viver em um mundo livre de riscos".
"Teremos que conviver com a Covid-19 porque ela permanecerá por muito tempo, a menos que alguém invente e teste com sucesso uma vacina", completou.
Após o programa, Sumption passou a ser acusado desde ser uma ameaça às cadeias de produção do Reino Unido à querer destruir o sistema público de saúde. Também não faltaram protestos indignados pela BBC ter realizado a entrevista.
Sumption tem respondido às críticas em artigos publicados na imprensa britânica.
The Times
"A lição da Covid-19 é brutalmente simples. Pessoas livres cometem erros e assumem riscos. Se responsabilizarmos os políticos por tudo que der errado, eles tirarão nossa liberdade para que nada possa dar errado. Eles farão isso não para nos proteger contra riscos, mas para sua própria proteção contra críticas", escreve Sumption no The Times.
"O lockdown foi decretado como uma medida temporária para espalhar infecções por coronavírus por um período mais longo, para dar tempo à capacidade de atendimento do NHS recuperar o atraso".
Daí o slogan do governo 'Stay Home, Protect the NHS, Save Lives'.
"Como esse despreparo poderia justificar privar toda a população britânica de sua liberdade, levando-nos à pior recessão desde o início do século 18, destruindo milhões de empregos e centenas de milhares de empresas, acumulando dívidas públicas e privadas em uma escala incapacitante e minando a educação de nossos filhos?", questiona o magistrado.
Sumption afirma que o NHS não está mais em risco. Em parte "porque o governo fez um excelente trabalho no aumento da capacidade de terapia intensiva" e em parte "porque a ameaça ao NHS sempre foi exagerada".
O objetivo do slogan original, uma das campanhas de comunicação de maior sucesso na história política moderna, era levar as pessoas em uma jornada – você deve ficar em casa, porque está protegendo o NHS e, portanto, salvando vidas.
"Precisávamos que as pessoas entendessem que, para impedir que o NHS fosse sobrecarregado, seria preciso ter menos pessoas doentes a qualquer momento", explica um membro do governo.
Desde então, o NHS mais que dobrou sua capacidade de cuidados intensivos.
O governo retirou a parte 'Protect the NHS' do slogan.
Stay Home, Save Lives
O lockdown agora é apenas para proteger a população do risco de infecção, o que "levanta sérias questões sobre nosso relacionamento com o Estado. É nosso negócio, e não do Estado, dizer que riscos correremos com nossa própria saúde. Não somos tolos ou crianças que precisam ser informadas pelos ministros sobre o que é bom para nós e forçados por policiais a fazê-lo", escreve Sumption.
"A resposta usual é que, ao sairmos, podemos infectar outras pessoas. Mas isso não funciona mais como desculpa para coerção. Aqueles que não querem correr o risco de serem infectados podem se isolar voluntariamente. Eles não estarão piores fora do regime compulsório atual. O resto de nós pode continuar com a vida".
O artigo então pergunta como o governo terminou nessa posição insustentável e responde dizendo: "... tendo originalmente embarcado em uma política sensata que evitaria um lockdown, fez uma curva de 180 graus na tarde de 23 de março, sem pensar nas implicações mais amplas. Teve um pânico cego provocado pelo 'pior cenário' do Professor Neil Ferguson, com 510.000 mortes. Para além do fato de que o pior cenário é, por definição, improvável, poucos cientistas agora apóiam isso. Mas teve consequências desastrosas. Ele levou o governo a tomar uma decisão que zomba de nossa humanidade e nos trata como meros instrumentos da política do governo".
Além disso, Sumption diz que o governo passou a impressão de que o coronavírus era perigoso para todos. "Não é. Ataca pessoas com sérias vulnerabilidades. De acordo com a maioria das estimativas, entre 0,5% e 0,75% das pessoas infectadas morrem. Dessas, 87% têm mais de 65 anos e pelo menos 90% têm causas múltiplas, sendo apenas uma delas a Covid-19, de acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais. A taxa de mortalidade de menores de 50 anos é pequena. Para a esmagadora maioria, os sintomas são leves".
Em conclusão, Sumption diz que no primeiro-ministro, vemos um "homem preso por sua própria retórica e pela lógica de seus erros passados". A opinião de Sumption é que o lockdown é agora "tudo sobre a proteção dos políticos. Eles não são homens maus, apenas tímidos, com medo de serem responsabilizados por mortes em seu turno. Mas é uma coisa perversa que eles estão fazendo".
"O fato crucial é que o governo aceita que a Covid-19 estará conosco a longo prazo. Esse é o resultado provável. E é consistente com a ciência. Uma vez que o vírus se apodera de uma população, ele não desaparece apenas até que um número suficiente de pessoas tenha sido exposto à doença para adquirir imunidade ou uma vacina aparecer. Então, quando o lockdown terminar, sempre que houver, o vírus ainda estará lá esperando por nós".
The Spectator
Nesta terça-feira (19), Sumption publicou uma resposta na The Spectator ao artigo Jonathan Sumption is dangerously wrong about lockdown, de Jonathan Compton.
A argumentação de Compton pode ser reduzida a ninguém pode desfrutar de um cinema, teatro, casa noturna porque corre o risco de transmitir um vírus entre indivíduos que aceitam o risco.
Entre esses indivíduos podem estar aqueles obrigadas a se expor aos mesmos riscos porque são trabalhadores essenciais e, portanto, são forçados a trabalhar pelas mesmas regras do governo.
Jonathan Compton acusa Sumpion de ignorar o 'risco social': das cadeias de suprimentos quebrarem, o NHS ficar sobrecarregado e o tecido da sociedade ficar em risco e diz que opiniões, mesmo que corretas, não devem ser expressas por um ex-juiz sênior.
Sumption respondeu que aqueles que desejam "prender todos devem certamente oferecer alguma razão plausível para supor que essas consequências extremas acontecerão. Nem o governo nem o senhor Compton o fizeram. O caso de Compton está livre de fatos. O caso do governo está cheio de fatos que o prejudicam".
Quanto à tentativa de "cancelamento", Sumption diz que um ex-juiz não toma decisões judiciais, e que juízes e advogados são treinados para analisar objetivamente fatos técnicos complexos, especialmente em áreas onde a opinião de especialistas entra em conflito, como acontece com a Covid-19. "Passei toda a minha vida profissional fazendo isso".
"Alguém precisa defender a racionalidade, a objetividade e um senso de proporção, e os milhões a quem o lockdown está levando à miséria e à ruína. É uma triste reflexão sobre a histeria atual que deveria ser eu", conclui.
* Com informações do The Times, The Spectator
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