"Uma interrupção do fornecimento de gás natural russo provavelmente intensificará essas pressões", disse Heiko Peters, vice-presidente e analista sênior da Moody’s Investors Service, em nota. "Pesquisas da Comissão Europeia sugerem que uma nova aceleração da inflação é provável no curto prazo", acrescentou.
A previsão atual da Moody's não é um cenário de estagflação na União Europeia.
A agência projeta crescimento do PIB de +2,5% este ano, caindo para +1,3% em 2023. A inflação deve recuar de +6,8% este ano para +4,4% no próximo.
"Para entrar em um cenário de estagflação na UE, a dinâmica dos preços poderia ser sustentada devido, por exemplo, a preços de energia mais altos por mais tempo e efeitos de segunda ordem, o que desaceleraria ainda mais a atividade econômica à medida que empresas e famílias revisassem para cima suas expectativas para a inflação e para baixo a do crescimento", explica a nota.
"Com base em vários indicadores que sugerem diferenças nas exposições à inflação enraizada, crescimento significativamente menor e nas funções de resposta política, vemos o sul da Europa mais exposto a um cenário de estagflação", alerta a Moody's. "Os países que combinam a maior probabilidade de ver aumentos de preços transitórios tornarem-se permanentes são Malta, Chipre, Portugal, Eslovênia e Croácia".
Embora a Itália, a França e a Espanha sejam menos vulneráveis à inflação, os níveis de dívida já elevados, a elevada exposição à taxa flutuante e os pagamentos de principal e juros consideráveis nos próximos 12 meses aumentam os riscos.
Grécia e a Romênia estão menos expostos a um cenário de inflação arraigada, mas suas capacidades políticas para combater um ciclo estagflacionário estão entre as mais fracas da UE, pondera a nota.
Ao lado da mudança das expectativas de crescimento e inflação, a Moody's também disse que "um mix de política fiscal-monetária que apoia o crescimento poderá aumentar o risco de um cenário de estagflação".
Crise de energia
A UE pode ficar sem gás durante a próxima temporada de inverno em meio à escassez de oferta, alertou o diplomata sênior do bloco, Josep Borrell.
"A Europa está enfrentando uma tempestade perfeita: os preços da energia estão em alta, o crescimento econômico está baixa e o inverno está chegando", escreveu o alto representante da UE para assuntos externos e política de segurança, em um artigo publicado na segunda-feira (1º) no site do Serviço Diplomático da UE.
Há "verdadeira incerteza" sobre se a UE terá gás suficiente e se será capaz de pagá-lo, disse Borrell no artigo "Ato de equilíbrio energético da Europa", descrevendo o próximo inverno como "excepcional".
Seus comentários vêm em meio a uma redução do fluxo de gás da Rússia, um importante fornecedor para o bloco. Borrell alertou que os países do continente devem se preparar para um possível corte total por Moscou, e disse que a Europa tem buscado substituir os suprimentos russos.
"A dura verdade é que, neste inverno, estamos nos aproximando dos limites do gás extra que podemos comprar de fontes não russas. Então, a maior parte terá que vir da economia de energia, ou seja, redução da demanda", escreveu.
No mês passado, a UE aprovou um plano que faria com que os Estados-membros reduzissem voluntariamente o consumo de gás em 15%, para permitir que o bloco acumulasse o combustível antes do inverno. Em caso de emergência, a redução voluntária pode se tornar obrigatória.
Segundo Borrell, o bloco conseguiu reduzir a participação do gás russo em suas importações de 40% no início do ano para cerca de 20% hoje, comprando mais LNG e recebendo gás via gasodutos da Noruega, Argélia e Azerbaijão.
A Rússia disse repetidamente que continua a ser um fornecedor confiável e honra suas obrigações contratuais, mas que as sanções internacionais estão impedindo a operadora de gasodutos Gazprom de fornecer gás à UE em plena capacidade.
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