A Rússia é um dos países mais ricos do mundo em commodities industriais e agrícolas, razão pela qual Zoltan Poszar, do Credit Suisse, proclamou esta semana que a nova ordem financeira internacional, que ele chamou de "Bretton Woods III", será baseada em commodities e nas moedas dos países que as exportam.
Há poucos dias ainda, a dinâmica de preços no setor de commodities em geral e no petróleo em particular, apontava o petróleo produzido pela Rússia como subitamente tóxico, sem conseguir encontrar um comprador disposto em qualquer lugar do mundo ocidental, apesar dos descontos recordes, enquanto o petróleo não russo atingia o preço mais alto desde 2008.

A realidade é que, apesar das manchetes citando gigantes petrolíferas ocidentais se afastando de projetos russos, essas empresas continuam comprando petróleo, derivados e gás da Rússia, relatou o jornal britânico The Times neste sábado (12).
"A Shell e a BP pararam de comprar petróleo russo nos mercados spot após uma reação contra a decisão da Shell de comprar uma carga russa que a Trafigura havia embarcado na semana passada. No entanto, apesar de muita publicidade sobre seus planos de sair dos investimentos na Rússia, espera-se que ambas as principais petrolíferas listadas no Reino Unido continuem comprando hidrocarbonetos da Rússia nas próximas semanas e meses sob contratos existentes", disse o jornal.
"A Shell é contratada para comprar gás natural liquefeito de projetos russos até 2035 e não deu prazo para sua planejada 'retirada gradual'. A BP prometeu abandonar sua participação na Rosneft, empresa de petróleo ligada ao Kremlin, mas é contratada para comprar combustível da Rosneft na Alemanha e disse apenas que está 'revisando' seus compromissos", acrescentou.
Por sua vez, as tradings não estariam violando nenhuma sanção, e continuam a cumprir contratos assinados muito antes da crise Rússia-Ucrânia.
A Trafigura, o maior comerciante privado de metais do mundo, o segundo maior de petróleo, e com participações em dutos, minas, fundições, portos e terminais de armazenamento em várias partes do mundo, disse em 2 de março que suspendeu seus investimentos na Rússia, que incluem 10% do projeto Vostok Oil da Rosneft, mas não comentou se continuará comprando petróleo russo.
O Times apurou que a Trafigura e a Glencore estão comprando produtos sob contratos que foram assinados antes da intervenção da Rússia na Ucrânia.
Um porta-voz da Vitol disse ao Times que a empresa "está cumprindo obrigações contratuais de exportar produtos energéticos, em total conformidade com todas as sanções aplicáveis".

Na terça-feira (8), os Estados Unidos anunciaram proibição imediata de novos contratos para o petróleo russo, com um período de carência de 45 dias para os compradores terminarem os acordos existentes. O Reino Unido também anunciou que eliminará gradualmente as importações de petróleo russo até o final do ano.
O Greenpeace afirmou na sexta-feira (11) que embarques russos estavam destinados a chegar à Grã-Bretanha nos próximos dias.
Dados da SourceMaterial, organização de jornalismo investigativo, mostram que desde 24 de fevereiro a Vitol embarcou ou deverá embarcar sete cargas de derivados de petróleo, incluindo diesel, nafta e gás liquefeito de petróleo, alguns deles da Rosneft, somando estimados US$ 100 milhões.
Na quarta-feira (9), um navio-tanque registrado na Índia estava ancorado em Taman, na Rússia, no Mar Negro, para transportar uma carga de gasóleo a vácuo, um subproduto do petróleo. Segundoa SourceMaterial, o navio-tanque foi afretado pela Trafigura e a carga fornecida pela Rosneft.
Em outro porto russo do Mar Negro, Tuapse, a Glencore deverá esta semana carregar um navio fretado com 60 mil toneladas de nafta, matéria-prima para solventes, também da Rosneft. Carga similar da Glencore deixou Tuapse no início da semana passada.
Estima-se que 10% da frota mundial de petroleiros está a serviço de clientes da Venezuela e do Irã, um contigente de navios-tanque dispostos a violar as sanções americanas que tende a crescer ainda mais.
Escassez de Paládio
Os produtores sul-africanos não poderão compensar uma possível redução no fornecimento de commodities-chave da Rússia, principalmente paládio e outros metais do grupo de platina, conforme noticiado na quinta-feira (10) pela empresa de mídia sul-africana SABC, citando Neil Froneman, diretor da Sibanye-Stillwater, maior mineradora do país.
"A aceleração dos projetos para expandir a produção é possível, mas um aumento significativo na produção levará meses e até anos", disse Froneman.
Rússia e África do Sul são os maiores produtores mundiais de paládio, com uma participação de mercado combinada de 80%. A empresa russa Norilsk Nickel produz 40% do paládio mundial, como subproduto da mineração de níquel.
Os preços do paládio subiram 80% este ano, atingindo as maiores máximas já registradas, à medida que as sanções contra a Rússia, que produz 25-30% da oferta global, interromperam os embarques e agravou a escassez de oferta.
Froneman observou que os fabricantes de automóveis agora estão tentando substituir o paládio, usado em conversores catalíticos de escapamentos para neutralizar gases tóxicos emitidos na queima de combustíveis.
Atualização 13/03/2022
A apreensão de petroleiros iranianos pelos EUA nos últimos meses não impediu que Teerã aumentasse as exportações de petróleo, disse o ministro do petróleo do Irã no sábado (12).
"Os Estados Unidos violaram em várias ocasiões nos últimos meses petroleiros iranianos para impedir a exportação de embarques", disse Javad Owji em uma entrevista realizada pela imprensa iraniana.
"Quando o inimigo percebeu que não poderia parar nossas exportações e contratos, eles foram atrás de nossos navios", disse Owji.
Suas observações seguem relatos de uma recente apreensão de um petroleiro iraniano nas Bahamas.
"As exportações de petróleo do Irã aumentaram sob as sanções mais duras e sem esperar o resultado das negociações de Viena", acrescentou Owji.
O aumento foi graças a "diferentes métodos usados para ganhar contratos e encontrar compradores diferentes", disse Owji.
As exportações de petróleo iraniano subiram para mais de 1 milhão de barris por dia (bpd) pela primeira vez em quase três anos, com base em estimativas de empresas que acompanham os fluxos, refletindo o aumento dos embarques para a China, mas ainda bem abaixo dos 2,5 milhões de bpd enviados antes das sanções americanas, fixadas em 2015.
O Irã vê as sanções como ilegais e disse que fará todos os esforços para afastá-las.
Atualização 14/03/2022
Russia Urals Crude Offered at Record Low of US$ -30.15 by Glencore.
Atualização 04/04/2022
Os Estados Unidos aumentaram suas compras de petróleo russo em 43% entre 19 e 25 de março, de acordo com dados da Administração de Informações sobre Energia (EIA). Apesar da proibição da Casa Branca de importações de energia da Rússia, os EUA continuam a comprar até 100.000 barris de petróleo russo por dia.
Veja também:
- Banco Central da Federação Russa vincula rublo ao ouro (04/2022)
- BDI: indústria alemã entrará em colapso sem gás russo (04/2022)
- Commodities russas serão vendidas em rublos (04/2022)
- BlackRock: sanções à Rússia marcam fim da globalização (03/2022)
- Ucrânia? Biden foi a Europa vender gás liquefeito (LNG) (03/2022)
- Tradings alertam para escassez global de diesel (03/2022)
- Deutsche Bank: Sanções à Rússia tem impacto negativo na economia europeia (03/2022)
- Chevron vai comercializar petróleo venezuelano, diz Reuters (03/2022)
- Morgan Stanley: sanções ameaçam domínio do dólar (03/2022)
- É hora de abandonar a agenda de emissões líquidas zero, defende The Spectator (03/2022)
- Facebook promove organização ucraniana neonazista Azov, pedidos de assassinato de Putin e discursos de ódio contra russos (03/2022)
- Noruegueses e russos lideram corrida pelas riquezas do petróleo e gás natural do Ártico (02/2020)
- Ocidente não deve culpar a Rússia pelo aumento dos preços de energia, diz Putin (03/2022)
- Alemanha sente o efeito de suas decisões sobre energia (03/2022)
- Argélia ampliará exportação de gás natural e LNG para a Europa (03/2022)
- Irã diz que pode suprir a necessidade de petróleo do mercado e estabilizar preços (03/2022)
- Sanções causarão escassez de chips, diz especialista (03/2022)
- Gazprom avança no maior acordo de fornecimento de gás natural com a China (02/2022)
- "Nunca mais vamos confiar no Ocidente", desabafa chefe da diplomacia russa (03/2022)
- Novo governo alemão ameaça não aprovar gasoduto Nord Stream 2 (12/2021)
- Japão decide manter investimentos em projetos russos de energia (03/2022)
- Biden proíbe importação de petróleo e gás da Rússia (03/2022)
- Líderes da Arábia Saudita e dos Emirados recusam atender ligações de Biden (03/2022)
- Sanções à Rússia e Putin não encontram apoio em governos da Ásia e da África (03/2022)
- Alemanha vai desativar usina nuclear recordista em geração de eletricidade em plena crise energética (12/2021)
- Em crise energética, governo alemão ensina a aquecer casas com velas (10/2021)
- Planejamento falho da transição energética gerou crise de energia na Europa (11/2021)
- Déficit na geração de eletricidade pressionou preço do gás na Europa (10/2021)
- Escassez de gás na Europa aumentará os custos dos fertilizantes e dos alimentos (11/2021)
- Crise energética acentua déficit comercial da UE (02/2022)
- Venda recorde de veículos elétricos na Europa supera carros a diesel em dezembro (01/2022)
- Comissão Europeia propõe rótulo verde para energia de gás e nuclear (01/2022)
- Geração de eletricidade a partir de carvão em 2021 é a maior da história (12/2021)
- Injeção de capital na indústria do carvão supera US$ 1,5 trilhão em 3 anos (02/2022)
- Participação do carvão na matriz energética dos EUA cresceu 15% em 2021 (12/2021)
- França volta a investir em centrais nucleares (11/2021)
- Kremlin: Alemanha continua sob ocupação dos EUA (02/2022)
- China responde à ameaça de sanções dos Estados Unidos (02/2022)
- Sanções causarão escassez de microprocessadores, diz especialista (03/2022)
- EUA ameaça retaliar a China se não aplicar sanções à Rússia (03/2022)
- Putin decreta restrições no comércio exterior da Rússia (03/2022)
- Sanções à Rússia e Putin não encontram apoio em governos da Ásia e da África (03/2022)
- Conflito Rússia-Ucrânia pode gerar instabilidade social no Oriente Médio e Norte da África (03/2022)
- Governo japonês reitera suporte a combustíveis fósseis (12/2019)
- China diz que acabou o tempo das decisões ditadas pelo Grupo dos Sete (06/2021)
- "Estamos testemunhando uma nova ordem mundial", diz Moscou (06/2021)
- Guerra nuclear com a China ou a Rússia é possibilidade real, diz chefe do StratCom (02/2021)