Não se sabe se Boris Johnson e Rishi Sunak sobreviverão politicamente ao ressentimento público por violarem as regras de lockdown. E ainda assim, há um escândalo do lockdown muito maior e que causará danos políticos muito mais duradouros: a inflação.
O escândalo do "partygate", e suas consequências, distraiu a atenção da população do Reino Unido de mais um conjunto de estatísticas de inflação. Os preços estão subindo a uma taxa anual de 7%, contra 6,2% no mês passado. É a subida mais rápida em 30 anos e bem acima da taxa em que os salários estão sendo reajustados.

"A taxa de inflação britânica ainda é ligeiramente inferior à maioria das outras grandes economias (8,5% nos Estados Unidos; 9,4% na Espanha; e 7,3% na Alemanha). Mas isso significará muito pouco para a família média que começa a se perguntar como vai pagar pelo aumento da gasolina, serviços públicos, alimentos e roupas. Os padrões de vida estão começando a diminuir e em uma extensão muito maior do que estavam após a crise financeira de 2008 e 2009. As pessoas já estão começando a notar que são mais pobres do que eram há um mês, e isso só vai piorar", escreve Matthew Lynn em Inflation is the real lockdown scandal.
"Na realidade, estamos pagando o custo do lockdown. Não precisa ser exatamente um Milton Friedman para descobrir que quando você aumenta maciçamente a quantidade de dinheiro em circulação, ao mesmo tempo em que restringe drasticamente a capacidade da economia de produzir coisas, ao mesmo tempo em que paga alguns milhões de pessoas para ficar em casa por um ano assistindo Netflix e assando pão gourmet, então os preços começam a subir muito rapidamente", acrescenta Lynn.
Matthew Lynn destaca que a única economia que não recorreu ao lockdown, a Suécia, está registrando um aumento de preços de 4,5% ao ano.
Embora a elevação do preço da energia, causada pela obsessão por diminuir as emissões de carbono sem planejamento adequado, seja apontada por governos para encobrir seus erros, Lynn lembra que no início de 2008 o barril de petróleo estava cotado acima de US$ 140, muito mais alto do que o preço atual em termos reais, "sem causar um aumento da inflação".

"O fornecimento de gás da Rússia é um problema, mas isso é apenas um componente relativamente pequeno do aumento geral dos preços. A verdadeira explicação é que fechamos nossas sociedades", aponta o colunista financeiro.
A economia poderia estar em bem pior estado se Boris Johnson tivesse mais uma vez "seguido a ciência" dos modelos matemáticos sempre equivocados. No final do ano passado, Johnson foi fortemente pressionado por membros do SAGE, o comitê científico independente que orienta o governo britânico, a decretar novo lockdown com base em cenários que apontavam um grande número de internações diárias e mortes pela variante Ômicron do vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, a despeito de dados e evidências contrárias de vários países.
Johnson ignorou os apelos para novamente suspender as atividades econômicas e trancar a sociedade, mesmo após advertido que o sistema de saúde não suportaria o fluxo de doentes com covid-19 e ele teria um quadro de cadáveres espalhados pelas calçadas, segundo os especialistas em ficar em casa.


"Naturalmente, Johnson e Sunak estão longe de serem os únicos líderes a fechar suas economias. Quase todos os grandes países impuseram restrições draconianas na tentativa de controlar a disseminação do vírus da covid-19. E para ser justo, o Reino Unido começou a aliviar algumas regras e retomar a vida ao normal antes de alguns de nossos rivais", escreve Lynn. "Mas eles estavam certamente entre os mais entusiasmados defensores da política do lockdown. Na verdade, eles são responsáveis pelo aumento dramático no custo de vida. E ao longo do próximo ano isso provavelmente os machucará muito mais do que partygate – e com razão".
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