O alegado relatório do BND informa ao governo alemão que "Em 21 de janeiro, o líder da China, Xi Jinping, pediu ao chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que retivesse informações sobre uma transmissão de humano para humano e adiasse um aviso de pandemia", escreve a Der Spiegel. "O BND estima que a política de informações da China perdeu quatro a seis semanas para combater o vírus em todo o mundo", concluiu o relatório da agência de inteligência.
A OMS divulgou um comunicado dois dias depois, uma quinta-feira (23/01), dizendo haver evidências de transmissão entre seres humanos em Wuhan, mas que eram necessárias mais investigações.
"Os dados coletados ... sugerem que a transmissão de humano para humano está ocorrendo em Wuhan".
Parte da direção da OMS considerava "muito cedo para falar de emergência de saúde pública de alcance internacional".
O comitê que pesou a decisão ficou dividido, disse seu presidente, Dr. Didier Houssin, informou o NYT. Alguns membros consideraram que o curso do surto justificava uma imediata declaração de emergência, mas outros disseram que era muito cedo para decidir, citando o número limitado de casos em países fora da China, bem como os esforços do país para conter o vírus. Prevaleceu a visão de Tedros, de que a declaração criaria um estigma mundial contra a China e os chineses, e também prejudicaria o turismo global.
"É uma emergência na China, mas ainda não se tornou uma emergência de saúde global", disse Tedros em coletiva de imprensa.
Contudo, o órgão de saúde da ONU alertou, três dias depois, em um relatório de situação publicado no final do domingo (26/01), que o risco era "muito alto na China, alto no nível regional e alto no nível global".
Em uma nota de rodapé, a OMS "explicava" que houve um "erro" em comunicados anteriores, publicados na quinta, sexta e sábado, que "incorretamente" disseram que o risco global era "moderado".
Na segunda-feira (27/01), a avaliação foi corrigida para 'alto risco global', devido a um "erro de redação" nos relatórios de 23 a 25 de janeiro.
No dia seguinte, 28 de janeiro, Tedros e Xi Jingping se reuniram em Pequim.
O chefe da OMS voltou com um acordo sobre o envio de uma missão internacional.
Mas levou quase duas semanas para obter a luz verde do governo chinês sobre a composição da missão, que não foi anunciada, a não ser para dizer que o veterano da OMS Dr. Bruce Aylward, um epidemiologista canadense, estava no comando.
A organização relutantemente declarou a pandemia apenas em 11 de fevereiro, horas após a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ter declarado que 70% da população do país mais rico da Europa poderia se infectar com o novo coronavírus.
"Estamos profundamente preocupados tanto pelos níveis alarmantes de propagação e gravidade como pelos indícios preocupantes de falta de ação. Portanto, avaliamos que a Covid-19 pode se caracterizar como uma pandemia", disse Tedros.
O diretor-executivo do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, ressaltou que a declaração não significava que a OMS adotaria novas recomendações no combate ao vírus.
O ministro da Saúde na época, Luiz Henrique Mandetta, comentou que a declaração de pandemia há muito era esperada mas que não mudava nada na prática.
Semanas depois, os governos mandariam para casa 4,5 bilhões de pessoas – mais de metade da população do planeta –, fechariam escolas, fábricas e o comércio não essencial e reduziriam drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
OMS nega telefonema
A Organização Mundial da Saúde negou que houve um telefonema entre o chefe de estado da China e o diretor-geral da OMS em 21 de janeiro. Um porta-voz disse que os dois "nunca falaram por telefone" sobre a pandemia de coronavírus.
A OMS postou nota oficial no site da organização.
O relato da Der Spiegel de uma conversa por telefone entre o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, e o presidente Xi Jingping da China são infundados e falsos.
O Dr. Tedros e o Presidente Xi não se pronunciaram em 21 de janeiro e nunca se falaram por telefone.
Esses relatórios imprecisos distraem e prejudicam os esforços da OMS e do mundo para acabar com a pandemia do COVID-19.
Observação: A China confirmou a transmissão de humano para humano do novo coronavírus em 20 de janeiro.
Der Spiegel é uma revista semanal alemã de centro-esquerda publicada em Hamburgo. Com uma circulação semanal de 840.000 cópias, é a maior publicação desse tipo na Europa.
* Com informações da Der Spiegel, Daily Mail, OMS, The New York Times
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