Atualizado em 13/04/2022
A viagem do chefe de Estado alemão foi originalmente planejada para o final de março, mas foi adiada depois que sua mulher testou positivo para o vírus da covid-19.
"Eu estava preparado [para a viagem]", disse Steinmeier a reporteres alemães em Varsóvia nesta terça-feira (12). "Mas aparentemente, e eu tenho que levar isso em conta, eu não era desejado em Kiev".
Na semana passada, o vice-Primeiro-Ministro da Polônia, Jaroslaw Kaczynski, criticou publicamente a visita de Steinmeier a Kiev. No entanto, nesta terça, o Presidente polonês Andrzej Duda recebeu Steinmeier cordialmente em Varsóvia.
A Polônia está buscando uma guerra para chamar de sua contra a Rússia, envolvendo, naturalmente, a OTAN.
A declaração do Presidente da Alemanha aos jornalistas aconteceu depois que o jornal alemão Bild Zeitung, citando fontes do governo ucraniano, disse que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se recusaria a se encontrar com Steinmeier se ele viesse a Kiev.
"Conhecemos todos os laços estreitos de Steinmeier com a Rússia", disse um diplomata ucraniano citado pelo Bild. "Ele não é bem-vindo em Kiev no momento. Vamos ver se isso muda no futuro".
O assessor presidencial ucraniano Serhiy Leshchenko negou, nesta quarta-feira (13), que Zelenskiy tenha rejeitado oferta de visita de Steinmeier, como foi publicado pelo Bild.
Talvez o governo ucraniano acredite que o Presidente da Alemanha tome decisões pelo que sai na imprensa, na falta de um serviço secreto ou de informações da maior economia da Europa.
O Presidente alemão tem sido alvo de críticas acentuadas nos últimos dias sobre sua proximidade com a Rússia, um país que ele descreveu como um "parceiro indispensável" da Alemanha.
Steinmeier trabalhou em estreita colaboração com o ex-chanceler Gerhard Schroeder, que mais tarde se tornou um proponente do Nord Stream 2, gasoduto que entregará gás russo diretamente à Alemanha pelo Mar Báltico. Ele pertence a estatal russa Gazprom, mas metade de seu financiamento vem de empresas europeias, como a francesa Engie, a austríaca OMV, a anglo-holandesa Shell e as alemãs Uniper e Wintershall. A construção do gasoduto foi concluída mas não foi autorizado a operar pelo novo governo alemão por pressão dos Estados Unidos.
Por sua vez, enquanto serviu como Ministro das Relações Exteriores da Alemanha no governo de Angela Merkel, Steinmeier manteve uma forte relação com seu homólogo russo Sergei Lavrov.
Em 2016, Steinmeier articulou uma série de passos para a implementação prática dos acordos de Minsk – a chamada Fórmula Steinmeier – destinadas a acabar com a guerra civil ucraniana no Donbass.
Sob a fórmula, as repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk deveriam realizar eleições sob as leis ucranianas e supervisão da OSCE (Organization for Security and Co-operation in Europe), onde obteriam situação especial de autogoverno e devolveriam o controle das fronteiras para Kiev.
Ucrânia, Rússia, Donetsk, Lugansk e a OSCE assinaram essa fórmula em outubro de 2019.
Zelensky, eleito em uma plataforma de paz, encontrou forte oposição de militantes nacionalistas armados – como a organização neonazista Azov – apoiados pelos Estados Unidos quando tentou implementar a fórmula e abandonou o acordo.
Citando o fracasso de Kiev em implementar os termos dos acordos de Minsk, Moscou enviou tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro, depois de reconhecer Donetsk e Lugansk como nações independentes.
Na semana passada, o embaixador ucraniano na Alemanha, Andrey Melnik, em uma entrevista ao jornal Tagesspiegel, acusou Steinmeier de não ser sério sobre sancionar a Rússia, e nomeou vários outros funcionários do governo em Berlim que Kiev considerava muito próximos de Moscou.
Ele também acusou o Presidente alemão de compartilhar a visão desrespeitosa do Presidente russo Vladimir Putin sobre a nação ucraniana.
Desrespeito
Em sua turnê mundial, em fala ao parlamento grego em vídeo, na quinta-feira (7), o presidente ucraniano apresentou uma gravação de um soldado de uma das organizações neonazistas que dão sustentação militar ao seu governo.
O parlamentar Giorgos Varemenos expressou sua indignação na TVXS:
"A presença de um representante de um batalhão pró-nazista no parlamento grego foi um insulto. O presidente ucraniano, quando perguntado por um jornalista americano sobre os nazistas do batalhão Azov, declarou recentemente que 'eles são quem são, mas lutam'. Mas precisamente porque eles são quem são, eles não têm lugar no parlamento grego. ... Este foi um capítulo sombrio na história do Parlamento grego, e não se deve dizer que foi culpa do intérprete, que não conseguiu esconder isso".
A Azov é comparável ao ISIS, na medida que atrai neonazistas fanáticos de todo o mundo para treinar e combater na Ucrânia, com inúmeros atos criminosos contra civis apontados pela ONU. O braço militar da organização neonazista foi incorporado ao exército regular da Ucrânia após o golpe de estado de 2014, organizado pelos EUA. O regimento recebe armamento direto da OTAN. No aspecto eleitoral, a Azov conta com cerca de 2% de simpatizantes da população.

Atualização 13/04/2022
A Alemanha está fazendo o suficiente para apoiar a Ucrânia, disse o Chanceler Olaf Scholz à emissora de rádio RBB do país nesta quarta-feira (13). O chefe de governo também disse que não tem planos de viajar para Kiev depois que as autoridades ucranianas recusaram uma visita do Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier.
O chanceler disse ter estado em Kiev pouco antes do início do conflito militar, acrescentando que está em contato constante com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky por telefone. "Quase não há nenhum chefe de Estado ou governo que tenha contatos tão intensos comigo", disse à RBB.
Scholz afirmou que Berlim está fazendo o suficiente para ajudar Kiev. "Tenho certeza de que a Ucrânia sabe exatamente quem lhe forneceu a maior ajuda financeira dos últimos anos", disse à RBB, acrescentando que "a Alemanha vem fazendo [isso] há muitos anos". O chanceler também disse que sua nação tem abastecido Kiev com "armas defensivas em grande escala".
Os esforços militares da Ucrânia "não seriam possíveis sem o que fizemos e o que nossos aliados fizeram e o que estamos fazendo e faremos", disse Scholz. Berlim continuará a fornecer armas a Kiev, mas a Alemanha nunca "fará isso sozinha" e só agirá "da mesma forma" que seus "amigos do outro lado do Atlântico e... na Europa".
Berlim e Kiev elaboraram uma lista de "possíveis suprimentos", incluindo algumas armas "prontamente disponíveis", confirmou o chanceler, acrescentando que a Alemanha só fornecerá armas que não necessitem de uma presença militar alemã em solo ucraniano, pois deseja "impedir que a OTAN, seus Estados membros e a Alemanha" se tornem parte do conflito em curso.
Atualização 16/04/2022
"Um dos jornalistas mais proeminentes da Polônia, Konstanty Gebert, disse que está deixando o que muitos consideram como o jornal de registro do país depois que exigiu que Gebert descrevesse o controverso Batalhão Azov da Ucrânia como 'extrema-direita' em vez de 'neonazista'", escreveu neste sábado (16) Glenn Greenwald.

* Com informações do Financial Times
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