Por mais de um ano, os formuladores de políticas se engajaram em pensamentos ilusórios sobre a inflação. A divulgação em março do Índice de Preços ao Consumidor, que mostrou a inflação acima de 8,5% em relação ao ano anterior, revelou o desacerto de uma política de inércia e os erros de julgamento.
Os preços no atacado aumentaram 11,2% em março em relação ao mesmo período do ano passado e subiram 1,1% em relação a fevereiro, segundo o Departamento do Trabalho.
"Os formuladores de políticas estão há muito tempo focados em uma visão 'micro' da inflação, observando como as interrupções na cadeia de suprimentos causaram o aumento dos preços de determinadas classes de mercadorias, em vez de notar como essas tendências eram simplesmente os primeiros sinais da tendência mais ampla 'macro' de um aumento geral dos preços. A esperança ao longo da maior parte de 2021 era que esses fatores especiais se mostrassem transitórios, e que a inflação caísse por conta própria sem intervenção política", avalia Noah Williams em The Costs of Wishful Thinking on Inflation.
Enquanto a oferta estava restrita, a política fiscal expansionia sustentava a demanda.
As transferências federais de renda — tanto por meio de pagamentos diretos quanto de benefícios estendidos de seguro social, como o seguro-desemprego — aumentaram, representando 21,6% da renda em 2020 e 21,8% em 2021.
Os efeitos combinados da política fiscal e monetária expansionistas logo ficaram evidentes.
Em maio de 2021, as vagas de emprego superavam o número de trabalhadores desempregados. O crescimento dos salários, medido pelo Fed, começou a acelerar em junho de 2021 e agora está em 6,0% em março de 2022.
O crescimento dos preços dos imóveis atingiu um recorde de 19,8% até julho de 2021. O crescimento permaneceu elevado, em 19,2% em janeiro de 2022.
"Os formuladores de políticas apenas tardiamente vieram reconhecer a ameaça de inflação. O Federal Reserve sinalizou uma mudança drástica na direção da política em novembro de 2021, com o reconhecimento do Presidente Powell de que a inflação não era transitória e exigiria ação, mas o Fed levou mais quatro meses para elevar as taxas de juros, e por meros 25 pontos-base", escreve Williams.
Enquanto isso, as taxas de juros reais de curto prazo avançaram ainda mais em território negativo, mesmo com o aumento dos rendimentos dos títulos de longo prazo.
"As ações políticas do governo Biden e seus aliados no Congresso — liberando petróleo da reserva estratégica, repreendendo empresas privadas, reduzindo os padrões da gasolina — tem essencialmente impacto zero na inflação. Ao mesmo tempo, o governo continua a pressionar por uma maior expansão fiscal", aponta o colunista do City-Journal. "Para alcançar uma redução significativa e sustentada da inflação, será necessário um aperto mais forte das condições monetárias pelo Federal Reserve, juntamente com a contenção fiscal que até agora tem faltado".
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