Os achados da pesquisa estão no artigo Drought-Induced Civil Conflict Among the Ancient Maya, publicado nesta terça-feira (19) na Nature Communications.
"A influência das mudanças climáticas no conflito civil e na instabilidade social no mundo pré-moderno é assunto de muito debate, em parte devido ao escopo temporal ou disciplinar limitado dos estudos de caso", pondera o artigo.
Os maias foram um povo pré-colombiano que habitou as florestas tropicais da região da Mesoamérica – atuais Guatemala, Belize, Honduras e Península de Yucatán (sul do México).
No século IX, os habitantes deixaram a maioria das cidades-estado maias fora da Península de Yucatán.
A razão pode ser secas prolongadas e conflitos militares em larga escala, cujos vestígios foram recentemente descobertos.
Os pesquisadores levantaram essa hipótese estudando o patrimônio paleoclimático, arqueológico e antropológico de Mayapán, a maior cidade-estado dos maias nos séculos XII a XV, e capital da Península de Yucatán nos séculos XIII e XIV.

No decorrer do estudo, foi determinada a idade dos restos mortais de mais de duzentos habitantes de Mayapan, analisadas as fontes escritas conhecidas e também traçadas as flutuações do clima local.
Concluiu-se que Mayapan experimentou duas grandes ondas de violência, a primeira no final do século XIV e a segunda em meados do século XV. O primeiro episódio foi associado à guerra civil, provocada pela revolta da nobreza local contra a dinastia governante Kokom, e o segundo coincidiu com o início de tumultos em massa provocados pela fome severa e o colapso da cidade-estado.
Dados paleoclimáticos mostram que secas de vários anos atingiram a Península de Yucatán em 1380-1400 e 1430-1460. Durante esses períodos, as chuvas caíram pela metade, privando os agricultores locais de parte significativa da colheita e causando ondas de descontentamento entre a nobreza e a população de Mayapán.
"Múltiplas fontes de dados indicam que o conflito civil aumentou significativamente e a modelagem linear generalizada correlaciona conflitos na cidade com condições de seca entre 1400 e 1450. Argumentamos que a seca prolongada aumentou as tensões entre facções rivais, mas adaptações subsequentes revelam resiliência em escala regional, garantindo que as estruturas políticas e econômicas maias perdurassem até o contato europeu no início do século XVI", escrevem os pesquisadores.
Um fator adicional para o desaparecimento da cidade, como sugerido pelo professor Hodell e seus colegas, poderia ser o fato de que secas semelhantes ocorreram na mesma época no Império Asteca, que era o principal parceiro comercial de Mayapán. A combinação desses fatores levou ao colapso do poder centralizado e à formação de 15 pequenos Estados no território de Yucatán, que existiram até a conquista da Mesoamérica pelos espanhóis, resumem os autores.
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