Paralisações completas ou parciais em dezenas de cidades reduziram o consumo das famílias devido às restrições de mobilidade e a fraqueza do mercado de trabalho agravou o problema. Milhões de consumidores foram forçados a ficar confinados em suas casas, enquanto a produção industrial também foi atingida, pois muitas fábricas foram fechadas e as cadeias de suprimentos enfrentaram dificuldades.
As vendas no varejo caíram -11% em abril em relação ao ano anterior, deteriorando-se ainda mais de uma contração de -3,5% em março, com a demanda por alimentos e veículos entre as mais atingidas, segundo comunicado do Bureau Nacional de Estatísticas desta segunda-feira (16).
As restrições chinesas destinadas a conter o coronavírus aumentaram os preços dos vegetais e outros alimentos, mostram os últimos números da inflação, deixando os consumidores com menos dinheiro para estimular a maior economia da Ásia.
As vendas de veículos para o mês marcaram seu nível mais baixo desde o início da pandemia, caindo -47,6%, para 1,18 milhão de unidades vendidas, à medida que a produção foi cortada e os showrooms estavam vazios.
A Tesla suspendeu a produção por mais de 20 dias da Gigafactory de Xangai e a fábrica da Volkswagen na cidade praticamente parou no meio do lockdown.
A produção industrial contraiu -2,9%, revertendo uma expansão de +5% em março.
Em linha com o declínio da produção industrial, a China processou -11% menos petróleo bruto em abril do que um ano antes. A geração de energia de abril do país também caiu -4,3% em relação ao ano anterior, a menor desde maio de 2020.
Os efeitos dos lockdowns e a demanda amortecida também apareceram nos números de emprego, que os líderes chineses priorizaram para a estabilidade econômica e social. A taxa nacional de desemprego em todo o país subiu de 5,8% para 6,1% em abril, a maior desde fevereiro de 2020, quando ficou em 6,2%.
A taxa de desemprego de 6,7% em 31 grandes cidades em abril é a maior da série histórica, iniciada em 2018.
O governo pretende manter a taxa de desemprego abaixo de 5,5% em 2022.
A China quer criar mais de 11 milhões de empregos e, preferencialmente, 13 milhões de empregos urbanos este ano, disse o Primeiro-Ministro Li Keqiang em março, mas recentemente chamou a situação de emprego do país de "complicada e sombria" após os piores surtos de covid-19 desde 2020.
Os gastos de capital também sofreram em abril, refletidos por uma contração no investimento em ativos fixos, que caiu -0,82% na base mensal.
O investimento em ativos fixos, um dos principais motores para sustentar a economia à medida que as exportações perderam impulso, aumentou 6,8% em relação ao ano anterior nos primeiros quatro meses, em comparação com um aumento esperado de 7,0%.
O investimento no setor imobiliário, responsável por cerca de um quarto da economia chinesa, caiu -2,7% em relação ao ano anterior nos primeiros quatro meses do ano.
Os cortes nas taxas de hipotecas não aumentaram o entusiasmo pela compra de imóveis, com as vendas de abril caindo -39% em volume e -47% em valor devido ao lockdown e à incerteza econômica.
As autoridades financeiras da China disseram neste domingo (15) que permitirão que os bancos cortem o limite mais baixo das taxas de juros dos empréstimos imobiliários para primeiras compras de imóveis, um movimento para apoiar a demanda habitacional e promover o desenvolvimento do mercado imobiliário.
Câmaras de comércio estrangeiras alertaram o governo que seus membros estão considerando mudar as operações para fora da China, se não houver mudanças nas regras de combate ao vírus da covid-19, a estratégia rigorosa de ZERO-COVID que usa testes em massa e lockdowns em uma tentativa de suprimir surtos.
Há, no entanto, sinais de que Xangai está se movendo em uma direção positiva. A cidade disse nesta segunda-feira que planeja reabrir e voltar à atividade normal a partir do início de junho, depois de declarar que 15 dos 16 distritos haviam eliminado casos de infecção por SARS-CoV-2 fora das áreas de quarentena.
"Surtos em outros lugares do país também diminuíram. Supondo que isso seja durável, abre caminho para uma recuperação econômica a partir deste mês", disse Julian Evans-Pritchard, economista da Capital Economics, em nota.
"Essa recuperação provavelmente será mais tensa do que a recuperação do surto inicial em 2020. Naquela época, os exportadores chineses se beneficiaram de um aumento na demanda por eletrônicos e bens de consumo. Em contraste, a mudança induzida pela pandemia nos padrões de gastos está agora revertendo o peso sobre a demanda pelas exportações chinesas".
As restrições draconianas, o lockdown estendido em Xangai e os testes prolongados em Pequim estão aumentando as preocupações com o crescimento econômico no resto do ano, disse Nie Wen, economista do Hwabao Trust.
"Ainda é possível alcançar um crescimento do PIB de cerca de 5% este ano se as restrições só afetarem a economia em abril e maio. Mas o vírus é tão infeccioso, e continuo preocupado com o crescimento daqui para frente".
Analistas do ING estão prevendo uma contração de -1% no crescimento econômico no segundo trimestre em relação ao ano anterior, enquanto Nomura disse que a economia chinesa vem enfrentando um risco crescente de recessão desde meados de março.
A Capital Economics prevê agora um crescimento chinês de apenas 2% em 2022, e diz que se o vírus não puder ser controlado mesmo essa taxa não é garantida.
* Com informações do Nikkei Asia, China Daily, Refinitiv Middle East
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