O relatório aponta que os bancos e os gestores de ativos ainda veem oportunidades de retorno no combustível fóssil, com o mundo queimando carvão como nunca à medida que a economia global se recupera da pandemia, levantando temores de que 2022 possa ser um ano de retrocesso para algumas iniciativas climáticas.
De acordo com a Urgewald, os bancos comerciais canalizaram mais de US$ 1,5 trilhão para a indústria do carvão entre janeiro de 2019 e novembro de 2021.
A ONG apurou que investidores institucionais tem participações combinadas de mais de US$ 1,2 trilhão na indústria do carvão. BlackRock e Vanguard Group são os dois maiores, com participações acionárias e títulos de mais de US$ 100 bilhões cada. Ambos são membros da Net Zero Asset Managers Initiative.
"O que estamos vendo é a ponta do iceberg", disse Heffa Schuecking, fundadora da Urgewald, em entrevista. "Este é um sinal claro de que as empresas não estão em transição".
"Nossa pesquisa mostra todos os empréstimos corporativos e subscrição para empresas na Global Coal Exit List (GCEL), mas exclui títulos verdes e financiamentos expressamente direcionados para atividades não-carvão", explica Ganswindt.
A lista GCEL abrange 1.032 empresas. Suas atividades vão desde a mineração, comércio e transporte de carvão até a conversão de carvão em líquidos, a operação de usinas a carvão e a fabricação de equipamentos para novas usinas de carvão.
"Os bancos gostam de argumentar que querem ajudar seus clientes de carvão na transição, mas a realidade é que quase nenhuma dessas empresas está em transição. E elas têm pouco incentivo para fazê-lo enquanto os banqueiros continuarem a darem cheques em branco", diz Ganswindt.
"No final do dia, não importa se os bancos estão apoiando a indústria do carvão fornecendo empréstimos ou fornecendo serviços de subscrição. Ambas as ações levam ao mesmo resultado: grandes quantidades de dinheiro são fornecidas a uma indústria que é o pior inimigo do nosso clima", acrescenta Ganswindt.
A ONG também examinou a exposição dos investidores institucionais à indústria do carvão, com base em suas participações em ações e títulos em novembro de 2021.
"Ao todo, identificamos investimentos institucionais de mais de US$ 1,2 trilhão na indústria do carvão", diz Yann Louvel, analista de políticas da Reclaim Finance.
"É absolutamente assustador ver que fundos de pensão, gestores de ativos, fundos mútuos e outros investidores institucionais ainda estão apostando em empresas de carvão em meio a uma crise climática existencial", acrescentou.
Se os empréstimos e subscritores forem vistos juntos, surge o seguinte quadro: bancos de apenas 6 países – 4 do G7 – foram responsáveis por 86% do financiamento bancário global para a indústria do carvão.

Entre janeiro de 2019 e novembro de 2021, 376 bancos comerciais forneceram US$ 363 bilhões em empréstimos à indústria do carvão. Mas apenas 12 bancos responderam por 48% do total de empréstimos para empresas da GCEL. Os 5 maiores credores são os três bancos japoneses Mizuho Financial, Mitsubishi UFJ Financial e SMBC Group; Barclays do Reino Unido; e Citigroup dos EUA.
Ironicamente, 10 dos 12 principais credores da indústria do carvão são membros da Net Zero Banking Alliance.
No mesmo período, 484 bancos comerciais canalizaram US$ 1,2 trilhão para empresas da GCEL através da subscrição de suas ações e emissões de títulos. Doze bancos responderam por 39% da subscrição total para a indústria do carvão desde 2019. As três instituições no topo do ranking são o Industrial Commercial Bank of China, o China International Trust and Investment Corporation e o Shanghai Pudong Development Bank. O único banco não chinês entre os 12 maiores subscritores é o JPMorgan Chase, dos EUA, que é também o 7º maior credor do mundo para a indústria do carvão.
Para novembro de 2021, a pesquisa da ONG identifica mais de 4.900 investidores institucionais, com 20 deles representando 46% do total investido.
Com ações e títulos totalizando US$ 688 bilhões, os investidores americanos tem participação de quase 56% dos investimentos institucionais na indústria global de carvão. Investidores de 6 países respondem por mais de 80% dos investimentos.
"Embora os governos dos EUA, Canadá e Reino Unido tenham pressionado por uma rápida eliminação do carvão em Glasgow, eles não tomaram nenhuma medida para encorajar suas próprias indústrias financeiras a sair do carvão", observa Louvel.

* Com informações da Urgewald
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