Em uma entrevista de meia hora com a emissora estatal norueguesa NRK, a Primeira-Ministra Erna Solberg disse que o governo entrou em pânico e os piores cenários controlaram seus pensamentos quando a pandemia atingiu a Noruega.
Foi um passo preventivo que apenas um líder político com o estilo folclórico e realista de Solberg arriscaria se sair bem. "Provavelmente tomei muitas decisões por medo", admitiu, lembrando os telespectadores das imagens aterrorizantes dos acontecimentos na Itália que inundavam suas telas.
O reconhecimento que medidas restritivas poderiam não ter sido necessárias para controlar a epidemia ocorre após ministros e agências governamentais terem criticado o alto custo, os efeitos nefastos e o baixo resultado do lockdown.
Solberg argumentou que, com o número de infecções na Noruega aumentando a cada dia no início de março, seu governo foi forçado a agir rapidamente.
"Era necessário fechar as escolas? Talvez não. Mas, ao mesmo tempo, acho que era a coisa certa a fazer no momento", ponderou Solberg. "É difícil dizer se é a soma das medidas que nos levou a obter resultados tão bons tão rapidamente, ou se foram as medidas individuais que foram mais importantes".
"Estávamos começando a ver os resultados em outros países com uma grande disseminação de doenças. A Noruega estava no topo da lista de infecções na época", lembrou Solberg.
A Noruega não parecia ter sido atingida tão levemente quanto se mostrou ser o caso posteriormente, explicou a governante.
Solberg não é a primeira do governo a concluir que fechar escolas e jardins de infância, fazer todo mundo trabalhar em casa ou limitar as reuniões a um máximo de cinco pessoas pode ter sido excessivo.
Em 12 de março, quando foi decretado lockdown, o número de reprodução da Noruega – média de pessoas contagiadas por cada pessoa infectada – já havia caído para 1,1 e caiu para abaixo de 1,0 em 19 de março.
Considerando apenas os números absolutos da doença, o governo norueguês poderia desfrutar a narrativa de sucesso no controle da pandemia de SARS-CoV-2.
Na sexta-feira (29), havia 30 pessoas no país hospitalizadas com coronavírus. Apenas uma pessoa morreu a semana toda. O número de mortos per capita é de 44 por milhão de pessoas, cerca de um décimo da vizinha Suécia.
Esses dados tem sido usados pela imprensa internacional para mostrar que a Suécia escolheu a estratégia "errada" ao não adotar o lockdown.
Ironicamente, o governo norueguês agora acredita que a estratégia da Suécia é a linha que deveria ter seguido desde o início.
"Nossa avaliação ... é que poderíamos ter conseguido os mesmos efeitos e evitado alguns dos infelizes impactos não fechando, mas mantendo abertos, mas com medidas de controle de infecção", disse Camilla Stoltenberg, Diretora Geral do Instituto Norueguês de Saúde Pública (NIPH), à NRK no início de maio.
A paralisação do país teve um custo social e econômico proibitivo. Um comitê de especialistas encarregado de realizar uma análise de custo-benefício das medidas em abril estimou que elas juntas custavam à Noruega US$ 3 bilhões a cada mês.
A população da Noruega é de 5,4 milhões de habitantes.
O comitê concluiu na sexta-feira passada que o país deve evitar o lockdown se houver uma segunda onda de infecções.
"Recomendamos uma abordagem muito mais leve", disse o chefe do comitê, Steinar Holden, Professor de Economia da Universidade de Oslo, ao Sunday Telegraph. "Devemos começar com medidas em nível individual – que é o que temos agora – e, se houver uma segunda onda, deveríamos ter medidas na área local onde isso ocorre, e evitar medidas em nível nacional, se isso for possível".

A estratégia atual da Noruega – usar testes, rastreamento de contatos e isolamento residencial para manter o nível de infecções baixo sem restrições rigorosas – seria a melhor, concluiu o relatório.
Porém, se essa estratégia de 'manutenção' não impedir um aumento nos casos, uma 'estratégia de freio' visando conter a taxa de transmissão, mas não reduzi-la abaixo de 1, seria preferível a um lockdown.
"Se é necessário ter restrições muito rígidas por muito tempo, os custos são mais altos do que deixar a infecção passar pela população", disse Holden ao Telegraph. "Porque isso seria imensamente caro".
De acordo com o relatório, uma 'estratégia de freio' custaria 25 bilhões de dólares a menos do que um cenário de 'manutenção instável', presumindo que os infectados ganham imunidade e que nenhuma vacina é desenvolvida até 2023, mas teria custo de 3.000 mortes adicionais.
A Noruega, ao que parece, já decidiu que um segundo lockdown não é o caminho a seguir, por mais que a infecção se manifeste novamente.
"Eu acho que era o certo de fazer na época", disse Solberg. "Com base nas informações que tínhamos, adotamos uma estratégia de precaução".
Escolas
Uma medida que não deverá ser reimposta é o fechamento de escolas.
"Atualmente, há muita informação disponível sobre como isso impactou negativamente a economia e as crianças vulneráveis. Todo o seu sistema de atendimento entrou em colapso", diz Margrethe Greve-Isdahl, médica especialista do NIPH em infecções nas escolas. "Acho que será difícil impor restrições rigorosas novamente".




O comitê de Holden estimou em abril que a medida custava 650 milhões de dólares por mês, enquanto na melhor das hipóteses tinha "pouco impacto" na propagação da infecção.
O NIPH foi mais longe e sugeriu que o fechamento de escolas pode aumentar a disseminação do vírus.
Greve-Isdahl disse ao Telegraph que, se as escolas não tivessem sido fechadas, elas poderiam ter desempenhado um papel na informação das pessoas nas comunidades imigrantes – que foram afetadas desproporcionalmente pela epidemia – regras de higiene e distanciamento social.
"Eles podem aprender essas medidas na escola e ensinar seus pais e avós; portanto, pelo menos para algumas dessas minorias difíceis de alcançar, pode haver um efeito positivo em manter as crianças na escola".
No final de março e abril, também houve receio de que os adolescentes estivessem espalhando o vírus mais fora das escolas do que teriam dentro delas.
"Havia grandes grupos de adolescentes que estavam juntos e não seguiam necessariamente nenhuma medida preventiva", disse Greve-Isdahl.
Stoltenberg suspeita que os alunos de 11 a 16 anos tem maior probabilidade de espalhar o vírus se mantidos em casa.
"Quando os jovens dessa idade ficam em casa por um longo tempo, é difícil controlar o que eles fazem", disse. "Em comparação com a escola, que tem mais estrutura, é provável que eles comecem a se comportar de maneiras que possam contribuir para uma maior disseminação da infecção do que teriam acontecido".
Depois que o governo revogou a regra de um metro entre alunos, as aulas voltaram a ser ministradas a toda a turma e as escolas retornaram ao horário normal.
"Deveríamos ter medidas de infecção adaptadas à situação da pandemia", disse Guri Melby, Ministra do Conhecimento e Integração, em entrevista coletiva na quinta-feira. "Hoje temos restrições muito rígidas em relação à infecção".
Holden disse que o retorno das escolas ao horário normal de funcionamento deve ser uma prioridade.
"O horário de funcionamento reduzido em jardins de infância e escolas não tem efeito de controle de infecção em si e é resultado de restrições de recursos na implementação de medidas de infecção, ao mesmo tempo em que os custos sociais são altos", argumentou.
"Esta é, portanto, a restrição remanescente que é mais importante de remover. Deve-se dar prioridade a medidas para proteger infecções de uma maneira que não exija horário de funcionamento reduzido".
Atualização 21/06 - A Noruega passou a ser mais aberta que a Suécia no índice de rigor (stringency index) das políticas Covid-19.

* Com informações do The Telegraph, The Local, Nordea
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