Atualização 28/08 - Segundo o Ministério da Saúde, até o momento, foram identificadas 6 mil gestantes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), sendo 2,7 mil infectadas com o novo coronavírus. O sistema da pasta registra também 221 mortes por SRAG, com 155 de mulheres com Covid-19. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (28).

As orientações do Ministério da Saúde incluem a importância de isolar a gestante para evitar a contaminação.

“Cabe ao poder público oferecer o isolamento. Pode ser em hotel, em casa de gestante. Mas aquela paciente precisa tomar todos os cuidados para não ser infectada”, destacou o Secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Parente. (com informações da TV Brasil)

O levantamento nacional, realizado através do site Survey Monkey entre 20 de julho e 16 de agosto, coletou avaliações de 1.525 profissionais – 951 pediatras e 574 ginecologistas-obstetras – sobre o comportamento de seus pacientes durante a pandemia.

Para 94% dos pediatras consultados, houve queda moderada (33%) ou acentuada (61%) do número de consultas.

De acordo com a pesquisa, 70% dos médicos dizem que as famílias têm medo de se contaminar ou infectar as crianças com o novo coronavírus em consultas presenciais. Para 82% dos médicos, houve um aumento dos atendimentos por telefone, aplicativos de mensagem e outras formas de comunicação à distância.

Maiores temores. Fonte/arte: © SBP
Maiores temores das mães. Fonte/arte: © SBP

Quase 90% dos pediatras perceberam alterações comportamentais nas crianças.

Segundo 75% dos médicos, oscilações de humor, como passar de felizes e ativas para taciturnas e retraídas, são as queixas mais frequentes. Em seguida, vêm ansiedade, irritabilidade, depressão, agitação, insônia, tristeza, agressividade, aumento de apetite, entre outros.

Alterações de comportamento. Fonte/arte: © SBP
Alterações de comportamento. Fonte/arte: © SBP

Segundo a Presidente da SBP, Dra. Luciana Rodrigues Silva, alguns aspectos explicam as mudanças de comportamento, como alterações da rotina, a falta da escola e da convivência com os colegas, e a necessidade de isolamento social imposta pela pandemia. A violência doméstica é outro fator que também preocupa os profissionais. “Com o confinamento, muitos pediatras têm relatado aumento dos casos de violência contra a criança e o adolescente”, afirma.

Para a Dra. Luciana, o isolamento social traz prejuízos ao desenvolvimento das crianças.  “Foi prejudicial não só para a maior irritabilidade, perda de atenção, como maior tempo de tela, em frente aos computadores, celulares, como maior número de obesidade das crianças”.

Em relação às crianças mais novas, a preocupação da SBP é com a vacinação.

Na pesquisa, 73% dos pediatras têm a percepção de que as crianças deixaram de ser vacinadas durante a pandemia. “As mães estão com medo do contágio pelo coronavírus ao procurar os postos de vacinação, mas ficar sem a vacina é um risco ainda maior para as crianças. Há, por exemplo, um avanço nos casos de sarampo no Brasil neste ano, justamente pela queda nos índices de vacinação durante a pandemia”, ressalta a Dra. Luciana Silva.

A redução da imunização pode aumentar os riscos de doenças que foram eliminadas ou tem baixa prevalência atualmente.

“Nós não queremos que doenças que já estão erradicadas ou diminuíram muito voltem a nos assustar”, enfatizou a Dra. Luciana sobre a importância do cumprimento do calendário vacinal mesmo durante o período de quarentena.

A pesquisa entre os pediatras também mostrou que a maior parte (63%) trabalha sem infraestrutura e equipamentos de segurança adequados. “Nós temos no serviço de saúde alguns lugares que tem todos os equipamentos, estrutura física para atender pacientes da Covid-19, com profissionais de saúde adequadamente vestidos e protegidos. Mas isso não ocorre em todas as unidades, como deveria ocorrer, sobretudo nas instituições públicas”, destacou a Presidente da SBP.

Exames de pré-natal

Para 90% dos ginecologistas e obstetras sondados, há necessidade de orientação mais ampla sobre a importância do pré-natal durante o isolamento social.

Mais da metade (52%) dos médicos perceberam um atraso das gestantes em fazer os exames no pré-natal e 46% disse que as mulheres tiveram dificuldade em fazer os exames, além de 8% que deixou de fazer os procedimentos.

A maior preocupação de 6 em cada 10 gestantes é a de infectar os seus bebês. Foto/arte: © .Febrasgo

Na avaliação dos especialistas, 80% das futuras mães temem a internação hospitalar por ocasião do parto, em virtude da pandemia, e 40% não sabem como proteger a si próprias e aos bebês durante a amamentação, correndo riscos maiores de contaminação.

Grande parte dos profissionais (70%) diz que as gestantes têm medo de que, uma vez infectadas, haja transmissão viral para o bebê, por meio da corrente sanguínea, e que o coronavírus cause má-formação fetal.

Para o Presidente da Febrasgo, César Fernandes, não existe nenhuma evidência de que haja transmissão vertical do coronavírus nem que ele cause defeitos congênitos no feto. “É uma crença equivocada talvez pela associação que muitas possam fazer com o vírus da zika, que assolou o País mais do que qualquer outro do mundo”.

O comportamento é preocupante e pode prejudicar tratamentos necessários aos bebês.

O Dr. César Fernandes diz que é preciso desmistificar essas crenças e conscientizar as gestantes dos riscos que elas e os bebês correm se o pré-natal não for feito da forma correta. “Por exemplo, ao adiar o início desse acompanhamento, perde-se a oportunidade de detectar e tratar precocemente doenças como a sífilis que causam má-formação fetal", adverte.

“A sífilis congênita é um mal que nós praticamente não considerávamos há uma década. Aumentou o número de sífilis congênita no Brasil de forma vergonhosa, mais de 1.000% do início dos anos 2.000 para agora. E você tem que fazer o diagnóstico antes de 14 semanas de gestação para efetuar um tratamento apropriado”, explica. "Se eu diagnosticar a sífilis no sexto mês de gravidez, não tenho mais o que fazer [em relação aos danos causados ao feto]".

Também há riscos de morte para a gestante e o bebê, além de parto prematuro, se doenças como diabetes e hipertensão não forem diagnosticadas e tratadas a tempo. A própria gestação aumenta as chances de complicações na Covid-19, o que torna o acompanhamento dessas mulheres mais de perto ainda mais imprescindível.

"A gestante tem uma dinâmica diferente da mulher não-grávida. A assistência ventilatória de uma grávida, caso precise ser intubada, é muito problemática. O [bebê no] útero dificulta a expansão do diafragma. É preciso uma equipe muito bem capacitada para atendê-la nessas condições", explica o Dr. César Fernandes.

O Brasil tem registrado alta taxa de mortalidade de gestantes pela Covid-19.

Para o Presidente da Febrasgo, essas mortes estão mais relacionadas à falta de acesso à assistência médica adequada do que à doença em si.

* Com informações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Associação Paulista de Medicina (APM)

Veja também:

Leitura recomendada: