"Mandetta tinha nos alertado para a gravidade do impacto na saúde pública", disse Guedes em entrevista à Folha de S.Paulo na manhã de domingo (15). "Nossa convicção era que a dinâmica interna já estava a nosso favor e garantiria um crescimento acima de 2% neste ano. Quando fui ao Congresso, na semana passada, só havia dez casos de coronavírus".

No Congresso, Roberto Campos alertou sobre a iminência do choque.

"Foi essa quantificação, feita pelo Banco Central, que me assustou", disse Paulo Guedes. "O BC tem modelos estatísticos, altamente matemáticos, que permitem modelar qualquer coisa. Modelaram a velocidade de contágio".

"A inclinação de contágio nos modelos do BC é mais rápida do que nos outros países. Estados Unidos e Brasil estariam com a taxa de contágio mais rápida do que ocorreu na própria China e na Itália", disse o Ministro. "Foi alarmante".

"Muita gente no governo achava que a coisa ia bater aqui em maio, e não deveríamos ser tomados pela neurose antes da hora, para não parar a economia antes da hora", disse. "Alertado pelos modelos estatísticos do Banco Central, e pela fala do Mandetta, de que as pessoas vão ter de ficar no isolamento, tornou-se evidente que a economia brasileira vai ser afetada com mais gravidade".

"Não é meu papel precipitar a retração da economia dizendo para pessoas ficarem em casa. Esse é o papel do Mandetta. Mas, se ele falar que vai bloquear os voos, eu sei que as empresas aéreas vão ter problema, e é nisso que tenho de agir", disse Paulo Guedes. "A situação de pequenas lojas, restaurantes, pode se tornar dramática".

A entrevistadora da Folha, Alexa Salomão, perguntou sobre os números. O Ministro respondeu que não lembrava com exatidão, mas "era algo assim: na Itália era previsão de 60% de contágio e aqui, de 80%", recordou. "Podemos atingir o pico em um mês. Mas tudo vai depender da prevenção".

No entender de Guedes, o impacto do coronavírus é temporário: "o contágio sobe rapidamente, fica três meses e depois desaba".

O Ministro da Economia diz que o governo está monitorando setores e estudando onde oferecer isenções. Aviação, turismo e serviços seriam os setores mais frágeis.

Segundo Guedes, também estaria sendo avaliado o BNDES usar R$ 100 bilhões, programados para serem devolvidos ao governo neste ano, para abrir linhas de crédito para pequenas e médias empresas.

O Ministro ressaltou ainda que os idosos também podem precisar de reforço financeiro, para comprar medicamentos e abastecer a casa, o que motivou a antecipação de metade do 13º de pensionistas.

"Nós não sabemos o desdobramento dessa doença. Em Roraima entraram 100 mil venezuelanos. Como vão ficar? Rio de Janeiro é uma área vulnerável. São Paulo também", admitiu Guedes.

Na entrevista, Guedes também admitiu que é o principal promotor da volta da CPMF:

"Vocês derrubaram um pilar da minha reforma, o imposto sobre transações, a ponto de cair um secretário meu".

* Com informações da Folha de S.Paulo

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