Nas últimas semanas, esforços foram mobilizados para estudar os fundamentos genéticos da resposta do corpo humano ao vírus. A Host Genetics Initiative, por exemplo, é uma colaboração de centenas de cientistas em dezenas de instituições que conduzem mais de 100 estudos que visam examinar a genética de pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2.
Sabe-se que a idade e as condições de saúde subjacentes, como a hipertensão, desempenham um papel importante na determinação de como as pessoas se saem após contrair a Covid-19.
Mas isso por si só não explica a grande diversidade de sintomas.
"Está claro que não entendemos por que há tanta diferença entre indivíduos na resposta à Covid-19", disse Eric Topol, diretor do Instituto Translacional de Pesquisa Scripps em La Jolla, Califórnia. "Além da teoria, há muito poucos dados até agora".
Os genes de algumas pessoas podem simplesmente torná-las mais vulneráveis a doenças graves, enquanto a genética de outras pode conferir resistência.
É geralmente aceito que nossos genes desempenham um papel na maneira como reagimos a infecções virais.
No extremo, uma mutação do gene CCR5, por exemplo, torna aqueles que o portam resistentes ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), um lentivírus que está na origem da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Por outro lado, certas variantes genéticas, especialmente em genes que influenciam o sistema imunológico, parecem predispor as pessoas a várias doenças infecciosas. Um estudo de 2017 analisou 23 infecções comuns, incluindo catapora, herpes zoster e herpes labial, e encontrou genes que pareciam estar associados a muitas delas.
Cientistas suspeitam que variações genéticas humanas possam desempenhar um papel semelhante em pessoas que sofrem de Covid-19.
Kári Stefánsson, chefe da deCODE Genetics, uma subsidiária da Amgen, conduziu alguns dos estudos mais extensos sobre o coronavírus SARS-CoV-2 até o momento.
O receptor usado para penetrar nas células hospedeiras, chamado ACE2, pode estar presente em número variável em diferentes pessoas, com base em sua genética e em fatores ambientais, como quais medicamentos elas tomam.
Os pesquisadores já começaram a ter uma noção de quem é mais vulnerável..
Evidências publicadas recentemente na revista médica The Lancet sugerem que um subgrupo de pacientes com casos graves da doença apresenta uma síndrome de tempestade de citocinas (hipercitocinemia) deflagrando uma resposta hiperinflamatória, responsável pela grave disfunção orgânica observada.
À medida que o corpo monta um intenso esforço para combater o patógeno anteriormente desconhecido, o sistema imunológico pode acelerar, causando danos colaterais que podem ser mais sérios que os danos causados pelo próprio vírus.
Crianças com sistemas imunológicos menos desenvolvidos podem ser menos vulneráveis. As evidências da deCODE sugerem que as mulheres também podem experimentar sintomas graves com menos frequência. Os que estão em perigo são adultos mais velhos e pessoas com enfermidades ligadas à inflamação.
"Se pudermos entender por que algumas pessoas experimentam tempestades de citocinas, podemos tratá-las melhor", disse Akiko Iwasaki, imunologista da Universidade de Yale.
Médicos da NYU Langone Health, em New York, analisaram mais de 4.000 pacientes hospitalizados com a Covid-19 em março.
Pacientes com baixos níveis de oxigênio e sinais de inflamação nos exames laboratoriais tinham maior probabilidade de estar gravemente enfermos.
A descoberta mais surpreendente foi a forte ligação entre obesidade e gravidade da Covid-19, disse Christopher Petrilli, professor assistente do Departamento de Medicina. Pacientes com sobrepeso com menos de 60 anos tiveram duas vezes mais chances de serem hospitalizados que seus pares mais magros, enquanto aqueles que eram obesos tinham três vezes mais chances de precisar de internação em UTI.
A obesidade é um estado pró-inflamatório: pessoas que carregam peso extra têm níveis mais altos de resposta imune e inflamação, explicou Petrilli.
"Está absolutamente relacionado à genética", disse ele. “A genética desempenha um papel crítico no desenvolvimento do seu sistema imunológico".
Três dos fatores de risco mais poderosos para doenças graves têm um componente genético: pressão alta, obesidade e diabetes.
O estado de New York descobriu que quase 90% das pessoas que morreram de Covid-19 tinham comorbidades. As mais comuns são pressão alta, encontrada em 56% das 10.834 mortes até 13 de abril, diabetes, colesterol alto e doenças cardíacas.
Cepas
Pesquisadores da Escola de Ciências da Vida da Universidade de Pequim e do Instituto Pasteur de Xangai, sob a coordenação da Academia Chinesa de Ciências, informaram que ao menos duas cepas do vírus estão circulando entre humanos. O estudo analisou apenas uma gama limitada de dados.
O estudo preliminar constatou que uma cepa mais agressiva do SARS-CoV-2 foi associada a cerca de 70% dos casos analisados em Wuhan, enquanto 30% estavam ligados a um tipo menos agressivo.
A prevalência do vírus mais agressivo teria diminuido após o início de janeiro de 2020, disseram os pesquisadores.
As descobertas foram publicadas em 3 de março na National Science Review, a revista da Academia Chinesa de Ciências
Especialistas afirmaram que a amostragem era muito pequena e questionaram a ciência por trás das conclusões dos chineses.
Em 31 de março, pesquisadores espanhóis anunciaram que conseguiram sequenciar o genoma completo de duas cepas do novo coronavírus.
O que deveria ser um projeto de um ano de duração, se transformou em uma corrida contra o relógio, para deter a pandemia. Em 15 dias, o Instituto de Investigação de Doenças Hepáticas e a Unidade de Vírus Respiratórios do Serviço de Microbiologia do Hospital del Vall d’Hebron realizaram a sequenciação.
Segundo Tomàs Pumarola, chefe do Serviço de Microbiologia do Hospital del Vall d’Hebron, a partir do que foi obtido na sequenciação, será possível entender porque alguns pacientes respondem melhor ou pior à infecção, e como o SARS-CoV-2 está afetando, individualmente, o desenvolvimento da doença provocada.
“Do ponto de vista epidemiológico, permite comparar as sequências entre diferentes populações e países do mundo, para ver como o vírus vai mudando a medida que se propaga. É um conhecimento útil para prever o que pode acontecer nos próximos anos e como atuar”, explicou.
* Com informações da Bloomberg
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