Atualização 14/06 - A cidade de Pequim registrou 44 novos casos locais de coronavírus neste domingo (14), a maioria deles ligada ao Xinfadi Agricultural Products Wholesale Market, no Distrito de Fengtai.

O mercado, o maior da cidade para frutas e legumes, foi fechado na manhã de sábado. Sua seção de carnes e frutos do mar já estava interditada.

Os novos casos incluem 27 pessoas que trabalhavam no mercado de Xinfadi e nove que foram expostas a ele, informou o governo municipal.

As autoridades também fecharam o mercado atacadista de frutos do mar de Jingshen, associado a pelo menos um dos oito casos confirmados na manhã deste domingo.

O salmão  foi retirado do menu de restaurantes da cidade depois que o vírus foi detectado em tábuas usadas em Xinfadi para preparar o peixe, informou o Beijing Youth Daily. As principais redes de supermercados, incluindo o Carrefour, retiraram salmão e produtos relacionados das prateleiras.

Em um artigo publicado no site da Comissão Central de Inspeção Disciplinar neste domingo, Wu Zunyou, epidemiologista chefe do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, disse que a fonte do mais recente surto pode ser frutos do mar contaminados ou carne do mercado , ou um cliente ou trabalhador que contraiu o vírus sem saber.

Desde quinta-feira, foram registrados  51 casos de transmissão local.

O governo disse que cerca de 46.000 residentes próximos ao mercado serão testados para o coronavírus SARS-CoV-2 – mais de 10.000 amostras já teriam sido coletadas.

O chefe interino de Fengtai, Chu Junwei, disse que um centro de comando foi criado para supervisionar as restrições de "guerra" no distrito.

Chu disse que 11 conjuntos residenciais ao redor do mercado de Xinfadi foram colocados sob quarentena total e estão sob guarda paramilitar. Três escolas primárias próximas e seis jardins de infância suspenderam as aulas.

O surto se espalhou para além da capital e para as regiões vizinhas, com o governo da província de Liaoning anunciando dois novos casos neste domingo, ambos em contato próximo com moradores de Pequim.

O Professor Ben Cowling, Diretor de Epidemiologia e Bioestatística da Escola de Saúde Pública, da Universidade de Hong Kong, disse acreditar que é o início de uma segunda onda de coronavírus na capital da China.

"Deve haver muito mais infecções em Pequim que ainda não foram detectadas", disse Cowling.

Segundo o jornal SCMP, de Hong Kong, cerca de 500 trabalhadores do mercado de Xinfadi teriam sido testados para o coronavírus e 45 estariam infectados sem apresentar sintomas. Essas pessoas foram afastadas do trabalho, obrigadas a cumprir quarentena sem sair de casa, mas pacientes assintomáticos não são incluídos no total de casos confirmados da China, afirma o SCMP.

Feng Zhanchun, especialista em saúde pública da Faculdade de Medicina Tongji, da Universidade de Ciência e Tecnologia Huazhong, em Wuhan, disse que a situação é semelhante aos estágios iniciais do surto em Wuhan, onde as infecções foram relatadas pela primeira vez em um mercado de frutos do mar e depois espalhadas por toda a cidade.

"Se não puder ser controlado agora, o vírus afetará muitas pessoas em pouco tempo por causa da alta densidade de população nas cidades", disse Feng.
Atualização 15/06 - Pequim ampliou a área de quarentena total após registrar 36 novos casos sintomáticos de Covid-19 – 34 ligados ao mercado de Xinfadi, incluindo 19 pessoas que trabalhavam lá.

Mais de 90.000 residentes que vivem em 21 conjuntos habitacionais próximos do mercado de Xinfadi, no Distrito de Fengtai, e do mercado de Yuquandong, no Distrito do Haidian, estão proibidos de entrar ou sair de casa.

Casos confirmados foram relatados entre os funcionários do mercado de Yuquandong depois que visitaram o mercado de Xinfadi ou entraram em contato com aqueles que estiveram lá. Cerca de 200.000 pessoas estiveram no mercado de Xinfadi desde 30 de maio.

Pequim realizou 76.500 testes Covid-19 no domingo, 59 dos quais mostraram resultados positivos, de acordo com coletiva de imprensa.

O governo demitiu dois funcionários do Distrito de Fengtai - Zhou Yuqing, vice-chefe do governo do Distrito de Fengtai, e Wang Hua, Secretário do Partido Comunista da China (PCC) do município de Huaxiang em Fengtai - por má conduta no cargo durante a prevenção e controle de epidemias.

O  gerente-geral do mercado de Xinfadi, Zhang Yuelin, também foi condenado a ser removido do cargo pelo PCC, por "falhar na implementação de medidas de prevenção do vírus".

O fechamento do mercado – um amplo complexo atacadista que fornece até 80% dos produtos alimenticios da cidade, segundo a imprensa estatal – levantou preocupações sobre a escassez de alimentos. Nesta segunda-feira, as autoridades se comprometeram a aumentar os suprimentos para manter os preços e os estoques estáveis.
 
Todas as comunidades de Pequim estão retornando às medidas de resposta de nível 2, após 79 casos confirmados em oito distritos. Testes positivos de SARS-CoV-2 de assintomáticos não são contabilizados.

As verificações de temperatura em shoppings e locais públicos foram retomadas, após semanas de medidas relaxadas.

Várias cidades chinesas instaram seus moradores a não viajar para a capital. A cidade de Daqing, na província de Heilongjiang, no nordeste do país, começou a exigir que os viajantes de Pequim passem 21 dias isolados.
Atualização 16/06 - 27 casos foram relatados na segunda-feira (15). Há um número total de 106 infecções na cidade desde quinta-feira. Além dos novos casos em Pequim, 4 foram relatados em Hebei e 1 em Sichuan.
Atualização 17/06 - Autoridades disseram nesta quarta-feira (17) que 31 novos casos confirmados foram registrados na terça-feira.

O lockdown total da capital estaria fora de questão, devido ao seu simbolismo político.

"Pequim é o centro político da República Popular da China. Qualquer acidente em Pequim prejudicaria a imagem política do Partido Comunista globalmente”, disse Zhou Xun, professor da University of Essex, ao Financial Times. "Um novo surto, embora seja relativamente menor em comparação ao anterior em Wuhan, desafiaria a narrativa de 'sucesso'".

23.05.2020

Embora inicialmente limitado à província de Heilongjiang, onde um hospital de campanha chegou a ser construído para combater o surto, novos casos de transmissão local começaram a surgir em Jilin e, agora, na província vizinha de Liaoning.

Em Jilin, uma província do Nordeste (Dōngběi) de 27 milhões de pessoas, na fronteira da China com a Rússia e a Coreia do Norte, foram registrados cerca de 130 casos e duas mortes, mas especialistas alertam para a ameaça de uma "grande explosão".

Os pacientes das províncias de Jilin e Heilongjiang parecem portadores do vírus por um período mais longo e demoram mais para testar negativamente.

Um dos maiores especialistas da China, Qiu Haibo disse que os pacientes em Jilin também pareciam não apresentar sintomas por mais de duas semanas após o contágio, dificultando a contenção por quarentena. Ele disse à televisão estatal que os casos nas duas primeiras semanas parecem mostrar danos principalmente nos pulmões, com 10% evoluindo para casos críticos.

Os pacientes estariam infectados por uma mutação do coronavírus SARS-CoV-2 com sequência genética idêntica aos casos importados da Rússia.

As autoridades ainda não identificaram o "paciente zero", mas os suspeitos incluem uma mulher de 45 anos que trabalha na lavanderia de uma delegacia em Shulan, uma cidade em Jilin, e pode ter entrado em contato com pessoas da Rússia.

Em uma reversão abrupta da reabertura que ocorre em todo o país, as cidades da província de Jilin cortaram trens e ônibus, fecharam escolas, parques, cinemas, academias e cafés, e colocaram em quarentena dezenas de milhares de pessoas.

Os mercados ao ar livre, onde a maioria da população se abastece de mantimentos, também foram fechados por tempo indeterminado.

Os moradores da província foram proibidos de sair de casa sem terem sido submetidos a testes de detecção do coronavírus nas últimas 48 horas, e as farmácias devem comunicar às autoridades os nomes daqueles que compram analgésicos e medicamentos antivirais.  Em algumas cidades, a venda de antitérmicos foi proibida para impedir que as pessoas ocultem seus sintomas dos sensores automáticos e de voluntários que aferem temperaturas dos moradores.

"Todo mundo está nervoso", disse Wang Yuemei, funcionário de uma fábrica de produtos farmacêuticos na vizinha Tonghua. "Nunca esperei que a província de Jilin fosse uma área atingida quando o país inteiro está voltando ao normal agora".

O distrito de Fengman, na cidade de Jilin, foi classificado como uma área de alto risco para a Covid-19. A cidade está montando uma resposta de emergência que pode utilizar dois estádios para instalação de hospitais de campanha.

“A situação atual da Covid-19 é bastante complexa e séria, e há um risco significativo de que o vírus se espalhe ainda mais”, disse Gai Dongping, vice-presidente da câmara da cidade de Jilin. “Para impedir a propagação da epidemia, foi preciso implementar estas medidas de controle na área urbana”.

Conjuntos residenciais com casos confirmados ou suspeitos foram isolados, com apenas uma pessoa de cada família autorizada a sair para comprar itens essenciais, por duas horas a cada dois dias.

As medidas mais rigorosas provavelmente estão afetando mais de 200.000 pessoas na cidade. As autoridades já mobilizaram a polícia e militantes do Partido Comunista para garantir que os moradores cumpram o confinamento.

Já o governo de Shulan, população de 600.000 habitantes, disse que adotará medidas mais drásticas ainda para conter o vírus.

Shulan é o único local na China em nível de alerta máximo para a Covid-19. Várias cidades do nordeste da China, incluindo Harbin e Dalian, também anunciaram medidas preventivas para controlar o surto, como obrigar todos os viajantes oriundos de Shulan a submeter-se a testes ou a um período de quarentena.

As medidas estão assustando os moradores da região, que pensavam que o pior da epidemia do país havia passado.

As pessoas "estão se sentindo mais cautelosas novamente", disse Fan Pai, que trabalha em uma empresa comercial em Shenyang, uma cidade na província vizinha de Liaoning que também enfrenta restrições renovadas.

“As crianças que brincam do lado de fora estão usando máscaras novamente” e os profissionais de saúde estão andando com equipamentos de proteção, disse Pai. "É frustrante porque você não sabe quando isso terminará".

Li Ping, que trabalha em uma empresa imobiliária em Shulan estocou carne, ovos e macarrão enquanto se preparava para o confinamento total

"Os controles do governo agora são muito rígidos", disse Li Ping. "Enquanto obedecermos e não sairmos, tudo ficará bem."

O medo de uma segunda onda, após a contenção da propagação do vírus a um grande custo econômico e social, é também um sinal de quão frágil será o processo de reabertura na China e em outros países, já que até o menor indício de um ressurgimento de infecções pode levar ao retorno de medidas rigorosas.

Em Wuhan, o epicentro da pandemia, ainda está em vigor medida que impede moradores de sair de determinados conjuntos habitacionais, com a aquisição de mantimentos e medicamentos realizadas por comissões de compras.

Para He Qinghua, diretor do Departamento de Prevenção e Controle de Doenças da Comissão Nacional de Saúde, os surtos “expuseram fraquezas no sistema de controle e prevenção de epidemias”.

“Já não trabalhamos só para o caso de surgir uma emergência, mas para uma realidade constante. Não podemos relaxar ou fazer uma pausa. Não é aceitável”, resumiu Qinghua durante uma entrevista em Pequim.

Rust Belt

A região nordeste do país é frequentemente vista como o Rust Belt da China devido ao declínio da indústria pesada e automobilística.

Dongbei © ejilin.gov.cn
Dongbei (Jilin, Liaoning e Heilongjiang) se tornou um bastião da indústria pesada estatal quando a região foi capturada pelos Comunistas. © ejilin.gov.cn

O surto de vírus pode adicionar mais pressão à campanha de reconstrução econômica da área em que o governo central está se concentrando há anos.

Em 2019, o produto interno bruto total das três províncias da região – Jilin, Liaoning e Heilongjiang – situava-se em menos da metade da próspera província de Guangdong, sede de muitas empresas e fábricas de gigantes da tecnologia.

Grandes conquistas

O governo chinês está ansioso para mostrar estabilidade, já que sua reunião política anual deve ocorrer esta semana, com os principais líderes se encontrando para avaliar o crescimento econômico após a pandemia.

A máquina de propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) fez divulgar neste sábado (23) que o país não registrou novos casos confirmados de coronavírus no final de sexta-feira, marcando a primeira vez em que não havia aumento diário no número de infecções desde que as autoridades começaram a relatar dados em janeiro.

O desenvolvimento ocorreu um dia depois que os líderes do PCC comemoraram "grandes conquistas" na luta contra a Covid-19.

Na sexta-feira, Li Keqiang, o primeiro-ministro chinês, disse ao Congresso Nacional do Povo que a China "realizou grandes conquistas estratégicas em nossa resposta ao Covid-19".

"A mensagem principal é que a China, sob a liderança de Xi Jinping e do Partido Comunista, salvou o país da Covid-19, enquanto todos esses países democráticos ocidentais falharam", avalia Steve Tsang, diretor do Instituto da China na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.

Embora não tenha havido casos confirmados nas últimas 24 horas, a Comissão Nacional de Saúde relatou dois novos casos suspeitos: um em Xangai e o outro na província de Jilin.

No início deste mês, Wuhan relatou um novo surto de infecções. A descoberta desencadeou uma campanha para testar todos os 11 milhões de residentes.

"As pessoas não devem assumir que o pico passou e baixear a guarda", disse Wu Anhua, médico de doenças infecciosas, na televisão estatal. "É totalmente possível que a epidemia dure muito tempo".

Sempre houve dúvidas sobre a confiabilidade dos números da China. É um governo autoritário e os líderes locais estão sob imensa pressão para manter a narrativa de números baixos. Nenhum deles gostaria de ser o único funcionário que relata novos casos, levantando questões sobre a credibilidade do que é mostrado.

* Com informações da Bloomberg, La Vanguardia, Observador, Al Jazeera, NYT, South China Morning Post (SCMP), Beijing Youth Daily, CGTN, The Guardian

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