A Rússia foi o segundo maior fornecedor de carvão da China no ano passado. Quase metade das importações da Rússia são de carvão metalúrgico.
As tradings também estão relatando compras de petróleo russo em renminbi. O primeiro carregamento, da Sibéria Oriental, chegará às refinarias chinesas em maio.
Os relatórios das compras chinesas de petróleo e carvão na moeda da China sugerem que a mudança para uma nova ordem mundial está acontecendo mais rápido do que muitos esperavam.
Em meados de março, o Wall Street Journal (WSJ) reportou que a Arábia Saudita está em negociações ativas com Pequim para precificar algumas de suas vendas de petróleo para a China em yuan, um movimento que prejudicaria o domínio do dólar americano no mercado global de petróleo e marcaria outra mudança do maior exportador de petróleo do mundo em direção à Ásia.
"As negociações com a China sobre contratos de petróleo a preços de yuan estão em andamento há seis anos, mas aceleraram este ano, à medida que os sauditas ficaram cada vez mais insatisfeitos com os compromissos de segurança dos EUA de décadas para defender o reino", relatou o WSJ.
O estrategista do Credit Suisse Zoltan Pozsar, em entrevista à Bloomberg esta semana, recitou sua tese de Bretton Woods III.
"Em vez de um momento Volcker, temos um momento Putin, e basicamente temos guerra, e fora desta guerra, algo também emergirá", disse Pozsar.
"Fora isso, eu acho que esse 'Bretton Woods III', o qual comecei a desenvolver, é o mundo onde estamos, voltando para a moeda apoiada por commodities – onde o ouro, mais uma vez, vai desempenhar um grande papel. E não apenas ouro, mas acho que todas as commodities", disse Pozsar.
Para o estrategista do Credit Suisse, o sistema financeiro global está sendo reformulado, e o domínio do dólar no comércio global está sendo contestado.
"O mercado de petróleo e, por extensão, todo o mercado global de commodities, é a apólice de seguro do status do dólar como moeda de reserva", disse a economista Gal Luft, diretora do Instituto de Análise da Segurança Global.
Uma queda na atratividade do dólar seria uma má notícia para o governo dos EUA, que depende de ativos denominados na moeda para financiar seus gastos, sendo a China o maior detentor externo da dívida pública americana.
O Fed tem recomprado títulos soberanos nos últimos dois anos, mas está diminuindo as compras e supostamente planejando reduzir seu balanço. Se a demanda global por Treasuries cair em um mundo sem petrodólar, restaria ao governo americano cortar drasticamente os gastos, ou o Fed continuar imprimindo dinheiro para cumprir os compromissos da dívida pública dos EUA.
Leitura recomendada:
- Morgan Stanley: sanções ameaçam domínio do dólar (03/2022)
- Rublo segue trajetória de recuperação frente ao dólar (03/2022)
- Commodities russas serão vendidas em rublos (03/2022)
- Banco Central da Federação Russa vincula rublo ao ouro (04/2022)
- BlackRock: sanções à Rússia marcam fim da globalização (03/2022)
- FMI: países podem cortar reservas denominadas em dólares, euros e libras (03/2022)
- Deutsche Bank: Sanções à Rússia tem impacto negativo na economia europeia (03/2022)
- Deutsche Bank revê para baixo avanço da economia brasileira e mundial em 2022 e 2023 (04/2022)
- Biden anuncia nova ordem mundial, liderada pelos EUA (03/2022)
- China diz que acabou o tempo das decisões ditadas pelo Grupo dos Sete (06/2021)
Veja também:
- China aponta EUA como real ameaça ao mundo (02/2022)
- Tradings alertam para escassez global de diesel (03/2022)
- BDI: indústria alemã entrará em colapso sem gás russo (04/2022)
- Presidente peruano proíbe população sair de casa para não enfrentar protestos contra aumento de preços (04/2022)
- Banco Central Europeu dividido no combate à inflação da zona euro (04/2022)
- HDE: Alemanha enfrentará fortes aumentos de preços (04/2022)
- Inflação espanhola atinge 10%, maior alta em 37 anos (03/2022)
- Inflação "transitória" americana bate em 7,5%, a maior em 40 anos (02/2022)
- Inflação dispara no Reino Unido e registra maior variação em 30 anos (01/2022)
- Crise energética acentua déficit comercial da UE (02/2022)
- Tradings ocidentais continuam comprando petróleo e gás russos (03/2022)
- Japão decide manter investimentos em projetos russos de energia (03/2022)
- Índia continuará comprando petróleo russo apesar das ameaças dos Estados Unidos (03/2022)
- Francesa TotalEnergies manterá participações em empreendimentos russos (03/2022)
- Fundos americanos estão comprando títulos russos e ucranianos, diz WSJ (03/2022)
- Alemanha sente o efeito de suas decisões sobre energia (03/2022)
- Planejamento falho da transição energética gerou crise de energia na Europa (11/2021)
- Déficit na geração de eletricidade pressionou preço do gás na Europa (10/2021)
- Escassez de gás na Europa aumentará os custos dos fertilizantes e dos alimentos (11/2021)
- Comissão Europeia propõe rótulo verde para energia de gás e nuclear (01/2022)
- Geração de eletricidade a partir de carvão em 2021 é a maior da história (12/2021)
- Injeção de capital na indústria do carvão supera US$ 1,5 trilhão em 3 anos (02/2022)
- Participação do carvão na matriz energética dos EUA cresceu 15% em 2021 (12/2021)
- França volta a investir em centrais nucleares (11/2021)
- Guerra nuclear com a China ou a Rússia é possibilidade real, diz chefe do StratCom (02/2021)