O desemprego previsto pelo BCE de 6,8% da população ativa em 2022 e 2023, reaparece de forma agressiva: no cenário de guerra longa, a zona euro pode arcar com um desemprego de 7,1% este ano e 8,3% no próximo.
No caso do conflito ser resolvido em breve, o banco projeta que a retomada da zona euro perderá força, crescendo +2,8% este ano e +2,1% em 2023.
Com a inflação cada vez mais alta, a presidente do BCE, Christine Lagarde, anunciou que é preciso acelerar o ritmo de descontinuação dos programas de compra de ativos – a maior parte dívidas públicas, e disse que as taxas de juros vão subir de forma acentuada este ano, em julho e setembro.
"O Conselho do BCE tenciona aumentar as taxas de juro diretoras em 25 pontos base na sua reunião de política monetária de julho", disse a chefe do BCE.
"Numa análise prospetiva, o Conselho do BCE espera aumentar as taxas de juro diretoras novamente em setembro. A calibração deste aumento das taxas dependerá das perspetivas atualizadas para a inflação a médio prazo. Se as perspetivas para a inflação persistirem ou se deteriorarem, será apropriado um incremento maior em setembro", acrescentou.
A taxa está em 0% desde março de 2016.
Lagarde explicou que o efeito deste início da subida dos juros não vai repercutir na inflação. Só "no longo prazo" é que aparecerá o desejado arrefecimento dos preços.
O impacto mediato acontecerá nos indivíduos endividados e, sobretudo, nos países onde a exposição à dívida soberana é maior. É o caso de Portugal, Grécia e Itália.
"Com a subida das taxas de juro de referência, os custos de financiamento dos bancos aumentam, o que se traduz em taxas ativas mais elevadas, em particular nos empréstimos a particulares", observou Lagarde.
As empresas, especialmente as menores e dependentes do crédito bancário, também se devem preparar.
Lagarde revelou ainda que o programa de expansão monetária, que configura o chamado quantitative easing (QE), precisará ser encerrado em 1º de julho. Há três meses havia expectativa de que seria mantido até o terceiro trimestre.
Atualização 15/06/2022
O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), que há cinco dias anunciou o fim do programa de compra de dívida pública e a subida das taxas de juro de referência em julho, marcou uma reunião de urgência para esta quarta-feira (15), depois da subida das taxas de juros de dívida soberana na zona euro.
Nos últimos dias, as taxas das obrigações da Grécia, Itália, Portugal, Espanha e Irlanda distanciaram-se das taxas de juros da Alemanha.
Os títulos do governo italiano subiram de preço após a notícia da reunião, revertendo algumas das recentes vendas que analistas disseram ter trazido os custos de empréstimos do país para a "zona de perigo". Gilles Moec, economista-chefe da Axa, uma seguradora, disse que as "apostas são altas" para o BCE "agora que todos estão limpando suas planilhas de sustentabilidade da dívida para a Itália, eles provavelmente precisam subir um degrau extra".
O rendimento de 10 anos dos títulos do governo italiano caiu cerca de 0,2 pontos percentuais no início das negociações nesta quarta-feira, para cerca de 3,87%, de acordo com dados da Tradeweb. Havia subido para quase 4,2% na sessão anterior, de pouco mais de 1% no final de 2021.

A economista alemã Isabel Schnabel, membro do conselho executivo do BCE e que supervisiona suas operações de mercado, indicou numa conferência em Paris que o banco central estava cada vez mais perto do ponto em que interviria nos mercados de títulos, dizendo que "alguns mutuários viram mudanças significativamente maiores nas condições de financiamento do que outros desde o início do ano".
Ela disse que o BCE não irá tolerar que as “alterações nas condições de financiamento” vão além “dos “fatores fundamentais” e que “ameacem a transmissão da política monetária”.
Schnabel notou que, nos últimos dias, “o aumento dos prêmios de risco soberano acelerou, as condições de liquidez tornaram-se mais difíceis e as mudanças diárias nos rendimentos das obrigações aumentaram”, considerando que as “mudanças nas condições de financiamento podem constituir uma deficiência na transmissão da política monetária que requer um acompanhamento próximo”.
Uma das vozes mais influentes em seu conselho, a executiva disse que o compromisso do BCE com o euro não tinha limites. "E nosso histórico de intervir quando necessário reforça esse compromisso", acrescentou.
A reunião elevou as expectativas dos investidores de que o BCE está se preparando para anunciar um instrumento político para evitar outra crise de dívida na região, que pode vir na forma de mais QE – em um momento em que o banco acabou de anunciar que estava eliminando todo o QE.
A reunião do BCE acontece poucas horas antes do primeiro aumento da taxa de 75bps do Fed desde 1994.
* Com informações do Diário de Notícias
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