Atualização 08/09 - O estudo de Fase 3 da vacina Covid-19 da AstraZeneca foi suspenso em todos os países participantes devido a suspeita de reação adversa grave em um participante no Reino Unido.
O voluntário no estudo do Reino Unido recebeu um diagnóstico de mielite transversa, uma síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal.
O mecanismo da mielite transversa em geral é desconhecido, mas alguns casos ocorrem após infecção viral ou vacinação, sugerindo uma reação autoimune. A inflamação tende a envolver a coluna vertebral difusamente em um ou mais níveis, afetando todas as funções da medula.
O momento do diagnóstico, e se está diretamente relacionado à vacina da AstraZeneca/Oxford, ainda é desconhecido.
Os ensaios clínicos da vacina experimental estão sendo realizados no Reino Unido, Brasil, África do Sul e Estados Unidos.
A vacina candidata, denominada Ad26.COV2.S, é composta de um vetor recombinante, não replicante, de adenovírus tipo 26 (Ad26), construído para codificar a proteína S (Spike) do vírus SARS-CoV-2.
O ensaio clínico aprovado é um estudo de fase III, randomizado, duplo cego, controlado por placebo, para avaliar a eficácia e a segurança de Ad26.COV2.S na prevenção da Covid-19 mediada por Sars-CoV-2 em adultos com 18 anos ou mais
Será uma dose única da vacina ou placebo.
Os dados que embasaram a autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) incluíram estudos não clínicos com a vacina e dados não clínicos e clínicos acumulados de outras vacinas que utilizam a mesma plataforma Ad26.
Os estudos das fases I/II com a vacina candidata foram iniciados em julho deste ano, nos Estados Unidos e na Bélgica.
O ensaio clínico aprovado será conduzido em etapas. A progressão para a etapa seguinte somente ocorrerá se os resultados acumulados, das fases I/II e os parciais da fase III, forem satisfatórios para a continuidade do estudo.
Imunidade esterilizante
Dan Barouch, Professor de Medicina e de Imunologia da Escola de Medicina da Universidade Harvard e um dos desenvolvedores da vacina Covid da Johnson & Johnson, disse em junho que os esforços visam uma vacina que previne infecções.
Em março, o Dr. Barouch e seus colegas desenvolveram sete variantes de uma vacina Ad26 para o coronavírus. Eles fizeram pequenas alterações no gene spike para ver se conseguiam fazer com que as células fizessem mais cópias da proteína viral. Eles também testaram variantes que tornariam a proteína do pico mais estável, o que pode levar a uma resposta imunológica mais forte.
A sétima versão provou ser mais poderosa do que as outras: cinco dos seis macacos que a receberam não tinham nenhum vírus detectável. O sexto tinha apenas níveis baixos em seu nariz.
“O fato de podermos proteger com uma única dose animais foi uma surpresa bastante positiva para nós”, disse o Dr. Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson, ao NYT.
Foi essa vacina de melhor desempenho que a Johnson & Johnson usou para iniciar seu teste de segurança em humanos, o chamado teste de fase 1.
A empresa planeja testar doses simples e duplas. A Dra. Angela Rasmussen, virologista da Universidade de Columbia que não participou dos estudos, disse que uma vacina que se mostra eficaz com uma única dose tornaria muito mais fácil tratar os bilhões de pessoas que precisam dela. “Teoricamente, você precisaria de menos, então você dá para mais pessoas mais rapidamente”.
Para Barouch, preventivos bem-sucedidos devem impedir a transmissão – vacinas eficazes podem permitir que algumas células sejam infectadas, mas controlam o crescimento do vírus antes que ele possa ser transmitido a outras pessoas.
A afirmação do cientista de Harvard ganha destaque na corrida (comercial) de uma vacina contra o vírus SARS-CoV-2, porque a Food and Drug Administration (FDA) está considerando opções para uma vacina que previna apenas casos graves de Covid-19, sem proteger o "imunizado" de ficar doente e transmitir o vírus.
"Poderíamos considerar uma indicação relacionada à prevenção de doenças graves, desde que os dados disponíveis suportem os benefícios da vacinação", disse o porta-voz da FDA Michael Felberbaum em resposta a perguntas. "Para o licenciamento, não exigiríamos que uma vacina proteja contra a infecção".
Pascal Soriot, CEO da AstraZeneca, em entrevista à BBC aposta que a vacina da Oxford será um sucesso contra sintomas graves. Mas no resultado do ensaio com animais, "todos os macacos vacinados foram infectados e não houve diferença na carga viral em comparação com os animais não vacinados", criticou o Dr. William A. Haseltine, ex-professor da Escola de Medicina de Harvard, reconhecido por seu trabalho em HIV/AIDS e no genoma humano.
"As vacinas contra o coronavírus em desenvolvimento não funcionam da maneira que as pessoas pensam sobre as vacinas: elas não protegem você de ficar doente", alertou Haseltine. "Imunidade esterilizante ao ataque do vírus é o padrão-ouro para qualquer vacina".
Double down
Na semana passada, a Anvisa noticiou que autorizou um pedido de mudança de protocolo do ensaio da fase III da vacina da AstraZeneca/Oxford, passando de dose única para duas doses. Para os voluntários que já foram vacinados, a segunda dose deve ser aplicada no prazo de quatro a seis semanas da primeira dose. Para quem ainda vai ser vacinado, o intervalo deverá ser de quatro semanas. A variação do prazo, de acordo com a Anvisa, deve-se à necessidade de entrar em contato com os voluntários e mobilizá-los novamente para a aplicação da segunda dose.
“Isso significa que, ao final dos resultados, nós vamos ter uma vacina que provavelmente será administrada com duas doses”, explicou o Gerente-Geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes. “Essa segunda dose de reforço foi proposta com base nos resultados de um estudo que foi conduzido no Reino Unido, publicado na revista The Lancet, que mostra que se você dar uma segunda dose após mais ou menos quatro semanas, até seis semanas, é possível observar um maior aumento da capacidade de gerar imunidade da vacina [da AstraZeneca/Oxford]”.
A Anvisa também autorizou a ampliação da faixa etária para a realização dos testes da vacina Oxford/AstraZeneca. Antes, podiam participar voluntários dos 18 aos 55 anos. Agora, a pesquisa inclui pessoas com idade entre 18 e 69 anos. “Essa mudança foi aprovada porque os dados de segurança que foram gerados em estudos que vem sendo conduzidos também no Reino Unido para essa vacina mostram que é seguro administrar a vacina nessa população também”, explicou Gustavo Mendes.
O que são ensaios clínicos
Os ensaios clínicos são os estudos de um novo medicamento realizados em seres humanos. A fase clínica serve para validar a relação de eficácia e segurança do medicamento e também para validar novas indicações terapêuticas.
Dentro desse ensaio, existem três fases (I, II, III), onde são colhidas informações sobre atividade, funcionamento e segurança para que o produto possa ser liberado ao mercado e ser usado em pacientes junto com o tratamento padrão da pesquisa.
Para realização de qualquer pesquisa clínica envolvendo seres humanos, é obrigatória a aprovação dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) e/ou da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
A anuência de pesquisa clínica pela Anvisa aplica-se somente às pesquisas clínicas que têm a finalidade de registro e pós-registro de medicamentos, por solicitações de empresa patrocinadoras ou de seus representantes. O prazo para início do estudo clínico após a aprovação ética e regulatória é definido pelo patrocinador do estudo.
Fases da pesquisa clínica de vacinas
Durante a fase I, pequenos grupos de indivíduos, normalmente adultos saudáveis, são avaliados para verificação da segurança e determinação do tipo de resposta imune provocada pela vacina. Nessa fase também podem ser realizados estudos de desafio, a fim de selecionar os melhores projetos de vacina para seguirem à fase seguinte.
Na fase II, há a inclusão de um maior número de indivíduos e a vacina já é administrada a indivíduos representativos da população-alvo da vacina (bebês, crianças, adolescentes, adultos, idosos ou imunocomprometidos). Nessa fase é avaliada a segurança da vacina, imunogenicidade, posologia e modo de administração.
Na fase III, a vacina é administrada a uma grande quantidade de indivíduos, normalmente milhares de pessoas, para que seja demonstrada a sua eficácia e segurança, ou seja, que a vacina é capaz de proteger os indivíduos com o mínimo possível de reações adversas.
O início dos testes em seres humanos depende de dois fatores: da aprovação pelo Conep, órgão do Ministério da Saúde responsável pela avaliação ética de pesquisas clínicas, e da própria organização interna dos pesquisadores para recrutamento dos voluntários. A Anvisa não define esta data.
Atualização 12/05
Mais de duas dezenas de casos graves de coagulação sanguínea foram identificados entre 8,7 milhões de receptores da vacina Covid-19 da Janssen / Johnson & Johnson, disse o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
Em uma apresentação online nesta quarta-feira (12), a agência de saúde pública disse que a maioria dos 28 casos relatados de coágulos sanguíneos com baixos níveis de plaquetas ocorreram em mulheres de 30 a 49 anos. Houve seis casos em homens.
Três das 28 pessoas morreram e quatro permanecem hospitalizadas. Um total de 19 casos envolveram coágulos sanguíneos no cérebro.
O CDC disse que as evidências sugerem uma "associação causal plausível" entre a vacina da Janssen / Johnson & Johnson e coágulos sanguíneos com baixa contagem de plaquetas.
* Com informações da Anvisa, The New York Times
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